Introdução
A província do Shaanxi, planície de Guanzhong e bacia do rio Wei que corre silenciosamente desde a antiguidade, foi um dos berços da nação chinesa. Sob o pó do Loess, estão enterradas inúmeras histórias de prosperidade e decadência. Em busca dos vestígios da civilização antiga, arqueólogos quebram a cabeça e empreendem incansáveis e árduos esforços. Mas, nossos antepassados parecem estar brincando conosco de "esconde-esconde", as descobertas inesperadas são sempre mais do que as escavações planejadas e os tesouros aparecem sempre no momento mais desatento, o que aumenta ao processo da busca certas pinceladas dramatizadas. Numa tarde comum do inverno de 2003, uma "lenda" começaria mais uma vez na província do Shaanxi, província onde tinha sido descoberto o exército de terracota...
Descobrimento
Na tarde do dia 19 de janeiro de 2003, um dia como qualquer outro às vésperas do Ano Novo lunar da China, cinco camponeses da aldeia de Yangjia que se situa nos arredores da cidade de Baoji, distrito de Mei, província do Shaanxi, oeste da China, estavam escavando a terra na encosta de um monte a cerca de 10 metros da superfície da terra. O sol ilumina todo o planalto de Loess. Um camponês dava umas picaretadas no solo, quando, de repente, apareceu sob a picareta uma cova de tamanho de seu punho. Pensou que fosse um túmulo, olhou para dentro e vislumbrou algumas coisas brilhantes. Um de seus companheiros veio inclinar-se sobre a cova, observou as coisas brilhantes atentamente e descobriu que eram quatro grandes espelhos de bronze. Disse a seus conterrâneos: "as coisas são iguais a objetos de bronze que vi num programa de televisão sobre a Lei dos Patrimônios Culturais. As coisas dão para carregar um automóvel". Os cinco camponeses ficaram muito animados e um pouco nervosos. Animados porque descobriram objetos antigos e nervosos porque se preocupavam que outras pessoas pudessem ficar sabendo e viessem roubar os tesouros. Eles discutiram o assunto e tomaram uma decisão: manter a descoberta em sigilo, não tocar nos objetos subterrâneos e comunicar sua descoberta imediatamente ao governo local. Depois, eles fecharam com terra a boca da cova, mandaram uma pessoa a ir informar o departamento responsável e outros ficaram no local para guardar a descoberta.
Às cinco e meia da mesma tarde, o plantão do Birô Municipal de Administração de Patrimônios Culturais da cidade de Baoji recebeu a informação e antes das seis, técnicos da Administração dos Assuntos Culturais do distrito de Mei chegaram ao local da descoberta. Através de investigações preliminares, descobriram uns 20 objetos de bronze. Como nos anos 50, 70 e 80 tinham sido encontrados objetos de bronze na aldeia de Yangjia, os técnicos, com sua sensibilidade profissional, sentiram já a grande importância da nova descoberta e comunicaram sem demora ao governo distrital.
Resgate
Por volta das oito horas da noite do mesmo dia, o trabalho de escavação iniciou-se. Funcionários, técnicos e voluntários aldeões incluindo os cinco descobridores formaram uma equipe de resgate. Ao abrir a cova, mostrou-se uma cova cheia de objetos de bronze que comoveram todos os presentes. Todos os objetos foram filmados e medidos imediatamente e foram transportados de mãos em mãos para fora da cova, sendo o maior um objeto que pesa cerca de 70 quilos. Seguindo os conselhos dos técnicos, 18 aldeões estavam encarregados do trabalho de transporte. Com o maior cuidado possível, os aldeões terminaram o trabalho até às 22 horas. Eram no total 27 objetos de bronze.
Limpeza
Às dez e meia do dia 19 de janeiro de 2003, o comboio de automóveis levando a nova descoberta chegou ao Palácio Cultural do Distrito de Mei, sendo recebido até pelo governador do distrito. Às 23 horas, os 27 objetos foram registrados e colocados no arquivo. Até o momento, todos estavam tão submerssos na grande alegria com a descoberta que ninguém se sentia cansado dos intensos trabalhos durante 3 horas.
Ter ou não ter inscrições e a quantidade dos caracteres nos objetos desenterrados é um dos mais importantes critérios para julgar o seu valor. Ao fazer registros preliminares sobre os descobertos, sabiam que 24 dos 27 objetos tinham inscrições, o que determinou a importante posição da descoberta.
Depois de um jantar simples e rápido, os técnicos cheios de emoção voltaram ao trabalho.
Um técnico limpou um vaso com todo o cuidado e descobriu nele um artigo de mais de 300 caracteres. O seu colega animou-se ainda mais, pois descobriu que há mais de 350 caracteres em um trípode com 70 caracteres a mais que o total dos caracteres num tesouro desenterrado em 1976. Uma hora depois de ser mergulhado no vinagre, as escrituras no trípode ficaram mais claras. Trata-se de um precioso registro sobre nove reinados da dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.C.). O trabalho continuou até a madrugada. De repente, o chefe da Seção de Patrimônios Culturais do Palácio Cultural do Distrito de Mei, Liu Huaijun, profisisonal durante mais de 20 anos, riu muito dizendo: "todos os 27 objetos têm inscrições. Que alegria!" Dizendo isso, curvou-se e sentou-se no chão, rindo.
Depois de uma noite sem sono, os técnicos descobriram nos 27 objetos desenterrados 27 artigos com mais de 4.048 caracteres que relatam claramente a história da dinastia Zhou do Oeste.
Valor da descoberta
Quanto ao valor da espetacular descoberta na aldeia de Yangjia, Li Xueqin, chefe do grupo de historiadores e arqueólogos especializados nas dinastias Xia, Shang e Zhou, e diretor do Instituto de Investigação Cultural e Ideológica da Universidade Qinghua disse: "Estou muito emocionado. Este acontecimento seguramente terá uma grande repercussão dentro e fora do país. Para a civilização chinesa, as três dinastias Xia, Shang e Zhou foram épocas de grande prosperidade. Mas lamentavelmente, carecemos de uma cronologia exata para estes períodos. Nossa história propriamente dita se remonta só até o ano 841 antes de Cristo. O objetivo de tomar as dinastias Xia, Shang e Zhou como limites de períodos históricos é poder elaborar uma cronologia sobre a época partindo de dados científicos e com o que se estabeleceria a base necessária para estudar mais a fundo a origem e a evolução da civilização chinesa antiga.
Recentemente, um grupo de cientistas encabeçado pelo senhor Li tem apresentado um trabalho no que figuram os reinados de todos os imperadores da dinastia Zhou do Oeste ordenados cronologicamente. E as escrituras nas peças desenterradas na aldeia de Yangjia podem corroborar os estudos feitos em dito trabalho.
Os 27 objetos de bronze desenterrados levam inscrições. Uma delas contêm mais de 350 caracteres, o que a converteu na mais extensa de seu tipo descoberto desde 1949. Além disso, nas inscrições se enumeram todos os imperadores, exceto o último da dinastia Zhou do Oeste. Quanto a seu conteúdo, as inscrições são muito ricas e vão desde a consignação de acontecimentos históricos até o claro e minucioso registro dos anos, os meses, os calendários antigos, as fases lunares e a data de entronização de alguns imperadores. Todas permitirão uma compreensão sobre a história da dinastia Zhou do Oeste com muito maior claridade.
Na antiga China, a divisão da sociedade em classes era muito demarcada, tanto é assim que a cada uma correspondia um tipo distinto de serviços. Entre os 27 objetos há 12 caldeirões de bronze, a maior das quais tem uma altura de 58 centímetros e um diâmetro de 45. Se o dono destes objetos era um nobre, por que possuía tantos caldeirões?
De acordo com as inscrições gravadas nos objetos descobertos, as 27 peças pertenciam à oitava geração da família dos Shans, nobreza da dinastia Zhou do Oeste. O seu dono foi funcionário de silvicultura e, posteriormente, seguia o rei na guerra contra outros reinos existentes na época. O rei o recompensou em pessoa. Nas inscrições se detalham também as façanhas feitas pelos reis que iam de Zhouwenwang, pai do primeiro rei da dinastia Zhou do Oeste até Zhouxiaowang, o oitavo rei da dinastia, assim como os prêmios concedidos à família dos Shans.
Segundo especialistas, há 3 mil anos atrás, a região que abrange a atual cidade de Baoji, província do Shaanxi, constituía uma região muito próspera onde se encontravam muitos feudos. Já na aquela época, os objetos de bronze, símbolo de nobreza, alcançou altos níveis artísticos. Entretanto, as invasões dos povos bárbaros que acabaram com a dinastia Zhou do Oeste obrigaram aos nobres a fugir precipitadamente e a abandonar seus valiosos e pesados objetos de bronze com a esperança de recuperá-los mais tarde. O certo é que eles jamais voltariam a vê-los e que estes permaneceram 3.000 anos sepultados debaixo de pó.
As inscrições nas peças de bronze registram ainda as façanhas da família dos Shans. Os especialistas julgam que os feudos de Shan se estendiam ao longo da aldeia de Yangjia. Pelo tanto, há uns 3 mil anos residia aqui uma família eminente e nobre. Mas, onde estão seus pátios e suas tumbas? Aonde teriam ido parar os objetos de bronze dos demais membros da família? Para responder a estas e outras perguntas, um grupo de arqueólogos iniciaram uma investigação na aldeia. Esperamos que esta iniciativa consiga sacar à luz muito mais antiguidades e objetos valiosos que possam decifrar os enigmas sobre a dinastia Zhou do Oeste.
A descoberta fez um grande impacto pela comunidade arqueológica do país. O grande respeito foi dedicado aos cinco descobridores camponeses, tal como o diretor da Administração dos Patrimônios Culturais da província do Shaanxi, Zhang Tinghao, disse: "a ação voluntária dos camponeses para proteger os patrimônios culturais tem o mesmo valor da descoberta dos tesouros. Na história da arqueologia da Nova China, estão registrados pela primeira vez os nomes de cinco camponeses, sua picaretada distraída, sua decisão e a firmeza de 18 pares de mãos que transportavam os tesouros naquela noite fria de rigoroso inverno".
Em 2003, os cinco camponeses Wang Ningxian, Wang Laqian, Wang Mingsuo, Wang Qinning, Zhang Qinhui foram selecionados como personalidade cultural do Ano.
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