Dia 25 de janeiro de 2002 - ou dia 23 de dezembro do calendário lunar chinês -, é importante para muitos chineses: é uma data que se relaciona com um costume popular neste país, isto é, oferecer oferendas ao "Benfeitor da Família".
Antigamente, quase todas as famílias colocavam pinturas nas paredes da cozinha e um altar ao "Benfeitor da Família". Colocavam-se ainda, dos dois lados do altar, vários cartazes em que se liam frases como "Subir ao céu para relatar coisas boas" e "Descer a terra para proteger a segurança" e, acima da pintura do Benfeitor da Família, liam-se cartazes como "Fiscal do mundo humano" e "Dono da casa".
Dizem que o Benfeitor da Família é enviado pelo imperador celestial e é considerado pelo povo o protetor da família. Ele mora junto com o povo para protegê-lo e supervisioná-lo durante o ano, costumando subir ao céu no dia 23 de dezembro do calendário lunar para relatar as condutas bondosas ou malignas dos seres humanos ao imperador celestial e este, de acordo com as suas informações, decidirá a sorte de cada família. Por esta razão, o relato do Benfeitor da Família representa grande importância para cada família. No dia 23 de dezembro, dia de sua partida ao céu, os habitantes vão promover uma cerimônia de despedida com toda a reverência.
Ao entardecer, toda a família reúne-se na cozinha para queimar incensos e oferecerem ao seu protetor o "Tang Gua" - um tipo de bombom muito pegajoso que pode grudar a boca do Benfeitor da Família -, para que não fale mal da família perante o imperador celestial. Depois de uma série de rituais, as pessoas tiram da parede o desenho do Benfeitor da Família e jogam-no ao fogo. Assim, o Benfeitor da Família subirá ao céu sob a forma de fumaça e só voltará à noite da véspera do Ano Novo lunar; ocasião em que todas as famílias realizam um ritual para acolhê-lo e colocar, novamente, seu desenho na parede, começando assim mais um ciclo de vida.
Segundo registros históricos, mais de dois mil anos antes de nossa Era, o Benfeitor da Família apareceu como um dos importantes deuses venerados por nossos ancestrais. Corre uma graciosa lenda popular sobre a origem do Benfeitor da Família. Dizem que na antiguidade, havia dois irmãos de sobrenome Zhang. O irmão mais velho Zhang Dan era um pedreiro e o irmão mais novo, pintor. Zhang Dan era hábil em construir fornos para cozinhas, por isso era chamado pelos vizinhos como "Rei de Forno". Além de saber construir fornos, era um homem bondoso e costumava, por exemplo, ajudar os vizinhos na solução das disputas familiares, sendo também um bom conselheiro e respeitado.
O Rei do Forno faleceu dia 23 de dezembro com 70 anos de idade. Quando vivo, como dono de casa, decidia tudo. Mas depois de seu falecimento, o seu irmão pintor, ficou muito aborrecido com os sobrinhos que brigavam sem parar pela disputa dos bens da família. Pensando e repensando, ele teve uma ideia. À meia noite do dia 23 de dezembro, isto é, o primeiro aniversário do falecimento do Rei do Forno, o pintor gritou de repente na cozinha dizendo que tinha visto a aparição do irmão. Toda a família correu para a cozinha e, à luz da vela, viram logo a figura do falecido pai na parede.
Todos ficaram paralisados pelo susto. O pintor disse então: "tive um sonho com meu irmão. Ele foi nomeado pelo imperador celestial como Benfeitor da Família, está muito zangado com o que acontece agora em casa e está disposto a relatar ao imperador celestial o caso, para que este nos castigue na véspera do Ano Novo". Então, apavorados, se ajoelharam diante da figura do velho falecido e ofereceram, em sinal de desculpas, alguns doces dos quais mais gostava. Daí por diante, nunca mais aconteceram brigas na família e todos viveram em paz e harmonia.
Inteirados do caso, muitos vizinhos vieram à cozinha dos Zhang para ver o que tinha acontecido. Na realidade, a aparição do Rei do Forno foi um desenho feito pelo pintor no intuito de amedrontar os familiares em litígio. Agora, para atender os vizinhos, o pintor não viu outra saída senão fazer muitos desenhos do irmão para oferecer aos visitantes. Assim, pouco tempo depois, todas as famílias tinham o desenho do falecido "Rei do Forno", agora chamado Benfeitor da Família. E, no dia 23 de dezembro, lhe pediam a harmonia familiar.
A lenda corria de boca em boca. Homenagear o Benfeitor da Família no dia 23 de dezembro do calendário lunar virou costume do povo. No século 11 antes de Cristo, a Casa Real adotou a data nos rituais oficiais.
Na realidade, os preparativos antecedem sempre ao Ano Novo lunar, a maior festa popular do povo chinês. Vamos ver as tarefas para cada dia antes da festa: dia 23, adoçar a boca do Benfeitor da Família; dia 24, fazer limpeza da casa; dia 25, fritar queijos de soja; dia 26, cozinhar carne; dia 27, cozinhar frangos; dia 28, fermentar a massa; dia 29, fazer pão; dia 30, permanecer acordado e feliz; e no primeiro dia do ano novo, dançar Yangge, uma dança coletiva.
Hoje em dia, já não se vêem tanto os rituais propriamente dito. Permanecem apenas alguns costumes, por exemplo, fazer uma limpeza geral em casa, não dormir na véspera do Ano Novo e dançar o Yangge. E a história do Benfeitor da Família continua sendo contada e recontada, mostrando o desejo do povo pela felicidade e paz.
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