Quando falamos sobre herói, o que você pensa?Aposto que as respostas são personagens como Capitão América, Batman, X-men, Jake Sully de Avatar ou William Wallace de Coração Valente. Mas para os chineses, alguns atletas também podem ser heróis. Em outros países a população também trata os grandes jogadores como heróis. É o caso de Pelé para o Brasil e Diego Maradona para a Argentina. No entanto, os atletas famosos da China carregam um insustentável peso de "heroísmo nacional".
Li Na foi a primeira tenista chinesa que conquistou o torneio de Roland-Garros, um dos quatro torneios de Grand Slam de Tênis. Ela se tornou, mais uma vez, foco da imprensa e população chinesa. Durante o Aberto de Indian Wells, na Califórnia, Li Na disse numa entrevista: "Talvez muitas pessoas pensaram que eu seria o próximo 'Yao Ming' ou alguém mais, mas para mim, sou apenas uma tenista. Eu não jogo para o país, mas sim para fazer bem o meu trabalho."
As palavras dela provocaram um alvoroço na China. Algumas pessoas acham que Li Na não tem senso de responsabilidade nem patriotismo, já que foi o país que a treinou e deu chances. Outras, apóiam a tenista. Para esses torcedores, o tênis é só tênis, e não tem nenhuma relação com política ou patriotismo.
Não foi a primeira vez que as palavras de Li Na ficaram no foco da imprensa. Desde a sua "saída" da seleção nacional de tênis, tem expressado várias vezes que não joga para o país, mas sim para si própria. Enfrentando o "sistema nacional" de esporte da China, sua fala parece dissidente e inaceitável. A população está acostumada a frases como "agradeço ao país por me cultivar" ou "o país que me ajudou a ganhar o campeonato". Antigamente, o esporte era um símbolo da força de uma nação. A China sofreu bastante nos últimos 100 anos e os chineses quiseram conquistar o respeito do mundo. Nesse caso, o esporte se tornou o melhor caminho para realizar os "sonhos". Assim, nasceu o "sistema nacional" de esporte.
Sob esse sistema, o governo foi responsável pelo treinamento dos atletas e muitos êxitos foram alcançados. Mas com este mecanismo, os treinamentos não foram definidos com base nas condições individuais. Como resultado, foi difícil para os jogadores demonstrarem suas personalidades. Os atletas que ganharam campeonatos ou medalhas de ouro se tornaram heróis do país.
Com a influência do "sistema nacional" de esporte, até hoje, muitos chineses ainda tratam os grandes atletas como heróis, que não podem ter nenhum defeito. Durante os Jogos Olímpicos em Beijing, o "voador chinês", ex-recordista mundial dos 110 metros com barreiras, Liu Xiang, desistiu da competição por causa de uma contusão no pé. Ele era um herói da população chinesa, mas sua desistência em 2008 o transformou num traidor. Yao Ming, o gigante chinês da NBA, sempre jogou com a pressão de representar um bilhão e 300 milhões de chineses. Para não decepcionar, o atleta tentou comparecer a todos jogos da seleção chinesa em sua época, fator que pode ter acelerado sua aposentadoria.
Li Na é afortunada, pois conquistou a independência do "sistema nacional" e segue sua vida; Liu Xiang, também, pois é um homem otimista e nunca desistiu; Yao Ming é de sorte, pois aceitou a pressão e se realizou com isso. No entanto, carregam na vida deles, como atletas chineses, o insustentável peso de serem heróis nacionais.
Hoje em dia, a opinião sobre o esporte já está mudando na China. As características individuais dos atletas são mais respeitadas e o "sistema nacional" também está sendo reexaminado. Contudo, a mudança completa precisa de tempo. O país está sofrendo com a dor do crescimento. Acreditamos que o desenvolvimento do esporte chinês dará bons frutos.