A Grande Muralha, o maior projeto de defesa militar da Antiguidade chinesa, é uma das maravilhas da arquitetura mundial. Sua construção iniciou-se nos períodos denominados Primavera e Outono e Reinos Combatentes, antes da nossa Era, e terminou no final da dinastia Ming, no século 17. Ela se estende na direção leste-oeste ao norte do território chinês e atravessa montanhas, pradarias e desertos. O projeto militar de defesa é uma raridade na história chinesa e mundial pela dimensão da obra, dificuldade de construção e tempo de execução.
Nos períodos da Primavera e Outono e dos Reinos Combatentes, o vale do rio Amarelo abrigava sete reinos. Um deles, o Estado de Chu, ergueu a primeira muralha para defender-se dos ataques inimigos, procedimento imitado por outros reinos. Os Estados de Yan, Zhao e Qin, que faziam limite com as pradarias do norte, sofriam constantes incursões dos hunos, um grupo nômade do norte do país. Para limitar o acesso deles, os três Estados construíram muralhas na fronteira do norte e lá instalaram suas guarnições de defesa. Este fato marca o início da construção da Grande Muralha.
No ano 221 a.C, Qinshihuang, o primeiro imperador feudal chinês, derrotou os outros seis Estados e fundou o primeiro grande império unificado e com o poder centralizado da história chinesa. Para consolidar o controle e defender-se das investidas dos hunos, Qinshihuang ordenou que as muralhas construídas pelos reinos vencidos fossem conectadas e ampliadas. Surge, assim, a Grande Muralha dos Qin, que se estendeu por mais de cinco mil quilômetros desde Liaodong, leste da atual província de Liaoning, até Lintao, atual distrito da província de Gansu, oeste do país. Trata-se da primeira Grande Muralha do norte da China.
Nas dinastias posteriores, mais de 20 reinos e dinastias chinesas deram prosseguimento à construção da Grande Muralha, cuja extensão ultrapassou os cinco mil quilômetros nas dinastias Han e Ming.
A Grande Muralha dos Han, que após o prolongamento de Gansu a Xinjiang atingiu dez mil quilômetros, consolidando-se a maior da história, desempenhou importante papel na conexão da Rota da Seda, via comercial da região oeste e do intercâmbio econômico e comercial com países de Ásia e Europa. Restam hoje algumas ruínas da Grande Muralha da dinastia Han.
As técnicas de construção empregadas na Grande Muralha pela dinastia Ming, a última da história da China a empreender-se nessa grande obra, atingiram o ápice nesse período. Durante mais de 200 anos, a dinastia Ming não interrompeu as obras de construção e manutenção desse majestoso símbolo de defesa militar. A Grande Muralha que ainda está de pé e que podemos visitar é a edificada na dinastia Ming.
Na Antiguidade, a construção da Grande Muralha visava fins militares de defesa, por isso usou como trunfo os acidentes geográficos do território chinês. Centenas de passos, fortes, gargantas, torres de vigia e almenaras compõem o conjunto que resultou nessa maravilha da história da arquitetura antiga. As almenaras eram construídas sobre ou fora da Grande Muralha, geralmente no cume das montanhas ou em locais fáceis de serem avistadas. Edificadas em distâncias determinadas e ligadas por um sistema de comunicação com a capital Beijing e as regiões de guarnição, destinavam-se a transmitir informações militares através de sinais de fumaça durante o dia e com fogueiras à noite. As torres de vigia, em geral, de dois ou três andares, serviam de depósito de munições, alimentos e de alojamento aos militares.
Dezesseis províncias, municípios e regiões autônomas da China guardam relíquias da Grande Muralha, testemunha da evolução e vicissitudes da sociedade feudal da China durante mais de 2700 anos. Se todos os segmentos construídos em diversos períodos fossem conectados, sua extensão ultrapassaria os 50 mil quilômetros e representaria o projeto mais grandioso empreendido pela raça humana.
A Grande Muralha é um arquivo sobre política, economia, cultura e assuntos militares das dinastias antigas e eco das histórias de generais e da inteligência dos projetistas e daqueles que trabalharam nas obras. Em contrapartida, o monumento é um triste símbolo da escravidão, do sangue e do suor derramado por essas pessoas. A lenda de Meng Jiang Nü, um dos contos mais populares sobre a Grande Muralha, descreve o trabalho árduo despendido no projeto e os aborrecimentos que ele causou à população.
O tempo e a erosão provocada pelo vento e pela chuva roubaram da Grande Muralha seu perfil original. Desde a fundação da Nova China, o governo adota medidas de preservação da obra. Em 1961, a Grande Muralha foi listada como patrimônio cultural estatal. Em 1987, ela foi tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade.