Entrevista com economista brasileiro José Nelson Bessa Maia

Fonte: CRI Published: 2020-05-28 16:23:00
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4-A China está formando ativamente novas forças motrizes para o crescimento econômico. O governo estimula o desenvolvimento do comércio eletrônico, 5G, inteligência artificial, big data e outras áreas. Para o senhor, quais setores podem ser as novas forças motrizes da economia chinesa?

NelsonMaia:A China está atrás somente dos EUA em termos de investimentos em startups e é um dos países líderes em origem e destino de venture capital em áreas como realidade virtual, veículos autônomos, robótica, inteligência artificial, drones, dentre outros. Além de já sediar muitos dos unicórdios (startups com valor de mercado acima de US$ 1,0 mil milhões), a China está cada vez mais atraindo jovens talentos de todo mundo intressados em inovação.

Nesse sentido, a estratégia oficial “Made in China 2025”, lançada em 2015, com o objetivo de modernizar a capacidade industrial chinesa, esta tendo sucesso em desenvolver rapidamente 10 setores estratégicos e converter o país em uma potência global em indústrias de alta tecnologia, como robótica, aviação, veículos inteligentes, novas energias, saúde e biogás.

Penso que tais setores já são as forças motrizes do desenvolvimento chinês no momento e deverão assumir um papel ainda mais importante nos próximos anos.


5-Qual é a sua expectativa sobre as relações econômicas e comerciais internacionais da China no futuro? Especialmente as relações com o Brasil?

NelsonMaia:O centro de gravidade da economia mundial está se movendo claramente para a Ásia, e, em particular, para a China. Esta é uma tendência que parece cada vez mais inevitável e que terá grandes implicações para todo o mundo. Projeções do Banco Mundial indicam que a China deverá ser a maior economia global em 2030.

Nesse contexto de ascensão chinesa à posição de primeira grandeza no sistema econômico e na governança internacional, os transbordamentos de sua expansão afetam não apenas os seus vizinhos na Eurásia, mas alcançam também outros de seus parceiros em todo mundo.

Mas, para seguir crescendo e incluindo, a China terá que passar por novas reformas. Resolvidos os problemas mais básicos de transformação produtiva, infraestrutura, habitação e alívio da pobreza, a China se defronta com uma nova etapa de sua jornada de desenvolvimento.

Agora, será necessário crescer de forma qualitativa mais que quantitativa. E isto vai requerer um padrão diferente de crescimento mais baseado no intangível, no conhecimento, nos serviços, na tecnologia. A etapa de acumulação de capital fixo já foi cumprida.

A nova etapa requer muito maior sofisticação de mercados, de alocação de recursos, de instituições, capital humano, de novas fontes de financiamento e novos tipos de riscos. A China está no centro de muitas das principais cadeias de valor e dos fluxos de comércio. Antes, como plataforma de linhas de montagem, mas, cada vez mais, como pivô e polo do dinamismo.

Pela enorme distância geográfica, o Brasil não está na área direta de influencia da China e não participa das suas cadeias regionais de valor. Sua condição é a de ser fornecedor de insumos industriais, matérias-primas, alimentos e outros bens intermediários e de se beneficiar de capitais e investimentos chineses.

No entanto, na condição de um país com um razoável padrão de desenvolvimento científico e tecnológico, posição dominante na região da América Latina, é razoável supor que os dois países tenham muito a fazer de forma conjunta em benefício mútuo.

O Brasil e a China poderiam perseguir uma aliança em torno de uma parceria estratégica, envolvendo interações entre empresas, universidades, redes de ecossistemas integrados de inovação e outros canais que levem a um relacionamento mais aproximado de geração de ideias e valores que tragam efeitos de transbordamento (spillovers) para muito mais do que a mera soma das partes.

Brasil e China desempenham papéis importantes nos contextos regional e global. Ainda que haja intempéries conjunturais, há consenso de que os dois países têm como destino comum situar-se entre as economias mais influentes do globo nas próximas décadas. Por isto, na condição de países emergentes e que buscam novas soluções para o seu desenvolvimento, os dois países têm muito a ganhar ao desenvolver uma agenda de colaboração nas áreas econômica, científica e tecnológica.

Mas há que considerar que a relação pode também beneficiar a região da América Latina. Afinal, os investimentos chineses podem contribuir para viabilizar maior conectividade entre os países sul-americanos e promover a tão ansiada integração da infraestrutura regional no subcontinente.

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