Visão: Pontos fundamentais do encontro diplomático do Brics
Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter da política internacional do Brasil
Nesta quinta-feira, 19 de maio, os chanceleres do Brics (grupo econômico que reúne as potências mundiais emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – “S” por South Africa) reuniram-se por videoconferência, a convite do ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, para discutir temas centrais sobre a atuação do bloco nos próximos anos. Questões diplomáticas fundamentais estiveram na pauta do bloco para os próximos anos, desde a recuperação da pandemia, prevenção de novas catástrofes globais e ambientais, entradas de novos países, e, mais urgentemente, caminhos e saídas para os entraves geopolíticos que fomentam conflitos internacionais.
Representaram os países, além de Wang Yi, o ministro das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Naledi Pandor; o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França; o ministro das Relações Internacionais da Rússia, Sergey Lavrov, e o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar.
Por vídeo, o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, afirmou que a situação internacional atual enfrenta muita instabilidade, mas que a tendência de buscar a paz e o desenvolvimento não mudará.
“Os países do Brics devem fortalecer a confiança política e a cooperação em matéria de segurança e manter uma estreita comunicação e coordenação em essenciais questões internacionais e regionais, bem como levar em consideração mutuamente os interesses essenciais e as preocupações relevantes , respeitar a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento uns dos outros”, disse o chefe de Estado. Wang Yi seguiu a mesma linha, afirmando que “a solidariedade e a cooperação com os países emergentes e em desenvolvimento é uma excelente tradição dos países do Brics, e é também um caminho inevitável para o desenvolvimento e crescimento do mecanismo do bloco.”
A centralidade do encontro se deve a, pelo menos, três temas primordiais para o bem-estar mundial e a saúde da economia dos países, que só podem ser resolvidos no campo diplomático. O primeiro, o reestabelecimento da paz na Europa, com atenções devidas e justas à Rússia, ouvindo o país e buscando soluções que não envolvam a tomada de partido. O acirramento de ânimos políticos dentro dos outros países, decorrente do conflito no Leste Europeu, pode trazer prejuízos mundiais de longo prazo, por isso uma negociação, em todos os níveis, é urgente.
Sobre o tema, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro informou que: "O Brasil defendeu a solução pacífica e negociada do conflito, clamou pela busca urgente de solução para a crise humanitária e ressaltou a necessidade de respeito ao Direito Internacional e aos princípios da Carta da ONU". A representação brasileira também afirmou que os chanceleres “expressaram preocupação com a recuperação econômica e a estabilidade mundial”.
O segundo, a saída injusta e desigual das economias dos países no pós-pandemia, em que alguns países, como o próprio Brasil, ainda encontram problemas para o crescimento econômico e o restabelecimento da economia interna, com inflação alta e desemprego, devido a um problema que transcendeu todas as fronteiras. E que, portanto, deve ser solucionado pela comunidade internacional, para o bem de todos os países.
O terceiro, o meio ambiente. Hoje, principalmente Brasil, China e Índia sofrem cobranças internacionais pelas suas ações ambientais, cada um sob um aspecto específico (a preservação do ecossistema amazônico brasileiro, a contaminação do ar na China, o saneamento básico na Índia), entretanto sem o devido engajamento da comunidade internacional em construir uma condição que é de benefício global.
Dialogando sobre o Brics+, outras importantes tomadas de decisão dizem respeito à ampliação do grupo, como já foi sinalizado, anteriormente, sobre a admissão da Argentina. Com o que seus líderes chamam de emergência de um mundo multipolar, busca-se um arco de alianças alternativo àquele de Estados Unidos, Europa e Japão, que dominou a economia e as forças militares desde o fim da Guerra Fria.
Importância crucial real da estrutura interna do Brics está no seu sistema financeiro. Tendo sido estabelecido seu próprio fundo monetário, o Novo Banco de Desenvolvimento, fundado em 2014 em Fortaleza, estado do Ceará, Brasil; sediado no município de Shanghai, na China, e hoje presidido pelo brasileiro Marcos Prado Troyjo.
Com uma base monetária alternativa, países saem do controle econômico de Wall Street, do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Central Europeu. Embora ainda seja um projeto iniciante, afetado pela instabilidade política dos países participantes, exceto China e Rússia, este segue o projeto em construção, pela crença de longo prazo numa ferramenta importante de desenvolvimento dos países pobres. Com fundos monetários de cooperação mútua, em que os países definam seus próprios critérios e interesses, a solução de urgências, as ajudas solidárias e a autogestão podem ser mais justas e equânimes.