Visão:Soberania e multilateralismo - sucesso da Iniciativa "Cinturão e Rota"
O fim do ano de 2021 prenuncia um período emblemático neste começo de século XXI, etapa após o controle da pandemia da Covid-19, que mudou os rumos da ciência e da economia mundial ao longo de dois anos. Entretanto, o ano que chega também é simbólico porque, quando começa o ciclo da retomada das atividades econômicas em todo o mundo, o primeiro encontro internacional daquele que é hoje o mais importante plano econômico mundial completa quatro anos: o Fórum da Iniciativa Cinturão e Rota.
Lançada pelo presidente Xi Jinping em 2013, ela foi ratificada em seu primeiro congresso, realizado em 2017. Desde então, mais de cem países do mundo se reuniram mais uma vez, em 2019, para tratar de acordos bilaterais e projetos de infraestrutura. A possibilidade de intercambiar ofertas e demandas entre as economias nacionais, neste acordo, tem como diferencial a multilateralidade, de modo que cada país possa encontrar seus parceiros e soluções para seus entraves no desenvolvimento.
O segredo da Iniciativa Cinturão e Rota é este: um encontro entre chefes de Estado e lideranças econômicas globais, tendo a potência asiática como anfitriã, e acordos, mas não necessariamente como protagonista em todos eles. Os países determinam seu destino e todos podem ganhar, sendo vantajoso para a China intermediar essas relações, porém sem buscar a prevalência de seus interesses.
Por essa razão, muitas nações têm visto na iniciativa uma oportunidade de construir relações econômicas internacionais fora da lógica de submissão a potências econômicas. Num cenário multilateral, ganham importância as economias emergentes, de modo que um mundo em que a periferia do capitalismo avance economicamente seja, também, motor para o crescimento das economias mais ricas.
Os números não deixam mentir: dezenove países da América Latina e Caribe já firmaram memorandos de entendimento para participar da iniciativa, sendo eles Panamá, Trindade e Tobago, Suriname, Antígua e Barbuda, Dominica, Bolívia, Guiana, Uruguai, Costa Rica, Venezuela, Granada, El Salvador, Chile, Republica Dominicana, Cuba, Equador, Barbados, Jamaica e Peru. No Fórum de 2019, inclusive, o presidente do Chile, Sebastian Piñera, colocou o país na vanguarda do continente, no que tange ao Cinturão e Rota. O governante, que encerra seu mandato em 2022, coordenou esforços para, ao lado da gigante de tecnologia chinesa Huawei, transformar o país no maior polo de desenvolvimento de computação na América Latina[1].
Se na América Latina as parcerias estão em estágio inicial, na África, Ásia e Europa os acordos já envolvem cerca de 70 países, um terço do PIB mundial e 65% da população do planeta.[2] Isso inclui, na África, a criação de uma zona industrial em Addis Abeba, capital da Etiópia[3], e uma linha férrea que cortará a Nigéria de Norte a Sul, integrando a fronteira com o Níger ao litoral[4]. Também são beneficiados pelo menos mais 42 países[5]. Na Ásia, um importante parceiro da China são as Ilhas Maldivas, onde o Aeroporto Internacional de Velana[6] é uma obra de fundamental importância, pois garante a integração mundial do país, cujo território é insular. O continente asiático mantém a maior parte dos contratos com a China e entre os demais países, quase todos integrantes da iniciativa. Por fim, mesmo a Europa, continente socialmente mais avançado do mundo, já faz parte do projeto. A Grécia, país mais afetado pela crise de 2008, tem na revitalização do Porto de Piraeus uma importante plataforma para a reconstrução econômica do país[7].
Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional
O interesse das lideranças dos países emergentes no multilateralismo foi sintetizado pelo presidente Xi Jinping, quando celebrava, em 2017, o primeiro encontro de seu projeto inovador. Àquela altura, representantes de mais de cem países já se reuniam em Pequim, depositando suas esperanças numa mudança do paradigma econômico global:
“O desenvolvimento é a chave principal para resolver todos os problemas. Ao promover a ‘Iniciativa Cinturão e Rota’, devemos nos concentrar na questão fundamental do desenvolvimento, liberar o potencial de crescimento dos países participantes e alcançar a integração econômica, o desenvolvimento interconectado e o compartilhamento dos benefícios para todos.”[8]
Ele ainda disse que “todos os países devem respeitar mutuamente a soberania, a dignidade, a integridade territorial, a diversidade dos caminhos de desenvolvimento e dos sistemas sociais, assim como os principais interesses e importantes preocupações de cada um”[9]. Essa afirmação é outro importante pilar do Cinturão e Rota, fazendo do respeito à autodeterminação e à cultura dos povos o eixo ético balizador dos acordos e tratados estabelecidos nessa iniciativa.
Com esse volume de investimentos e essa nova orientação para as relações internacionais, a China transforma-se em vetor do desenvolvimento mundial, caminhando a passos largos para seu objetivo: uma transformação das relações econômicas globais, estabilizando o multilateralismo e a fraternidade entre os povos.
Autor: Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional
[1] Economía y negocios (Chile): http://www.economiaynegocios.cl/noticias/noticias.asp?id=565816
[2] José Vitor Honório Monteiro de Barros (Unifesp): https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/60448
[3] African News (parceira Xinhua): http://www.xinhuanet.com/english/2018-06/11/c_137246794.htm
[4] Página oficial Cinturão e Rota: https://eng.yidaiyilu.gov.cn/qwyw/rdxw/77420.htm
[5] Página oficial Cinturão e Rota: https://eng.yidaiyilu.gov.cn/info/iList.jsp?cat_id=10076
[6] Conselho Indiano para Relações Globais: https://www.gatewayhouse.in/chinese-investments-in-the-maldives/
[7] Xinhua: http://www.xinhuanet.com/english/2018-08/28/c_137425525.htm
[8] A Governança da China. Promover juntos a iniciativa “Cinturão e Rota”. Página 629.
[9] A Governança da China. Promover juntos a iniciativa “Cinturão e Rota”. Página 628.