A República Popular da China e a ONU – 50 anos depois

Published: 2021-10-22 16:09:23
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O ano de 2021 marca o cinquentenário de um dos acontecimentos geopolíticos mais importantes do século XX. A Resolução nº 2758 da Assembleia Geral das Nações Unidas foi aprovada em 25 de outubro de 1971, reconhecendo a República Popular da China como "o único representante legítimo da China nas Nações Unidas" e retirou "os representantes de Chiang Kai-shek" da Organização das Nações Unidas. Não tratou somente de uma questão onde uma representação foi trocada por outra. Existe uma história a ser contada.

Com o fim da Guerra de Libertação em 1949, o Partido Comunista da China liderado por Mao Zedong tornou-se o partido no poder na China. Os derrotados refugiaram-se na ilha de Taiwan, autodeclarando a província como “República da China”. Com o apoio do então governo dos EUA, os dois lados do Estreito de Taiwan ficaram isolados. A China foi um dos 51 países fundadores da Organização das Nações Unidas (ONU) e um dos membros do Conselho de Segurança. Depois da fundação da República Popular da China, sua cadeira nas Nações Unidas foi ocupada pelas autoridades do Kuomintang de Taiwan, devido à obstrução do governo dos Estados Unidos,

Observando no conjunto, a admissão da República Popular da China como a única representante do povo chinês na ONU não foi somente uma vitória dos comunistas chineses. Tratou-se da vitória de uma república surgida da maior revolta anticolonial da história e, como tal, por muito tempo foi a principal referência dos movimentos de libertação da Ásia, África e América Latina. Ou seja, o assento ocupado pela República Popular da China na ONU é carregado por um simbolismo que vai muito além da legitimidade do governo de Beijing. É a legitimação de um governo que apoiou, e apoia, as causas mais progressistas de comum interesse dos povos da periferia do sistema.

A principal marca da participação chinesa na ONU é exatamente a de porta-voz dos interesses das mais amplas aspirações dos povos oprimidos do mundo. Exemplo disso foi o discurso proferido por Deng Xiaoping por ocasião da Sexta Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas ocorrida no dia 06 de abril de 1974. Tratou-se de um dos discursos mais profundos proferidos na história da ONU. Deng Xiaoping observou neste discurso que seu país deveria declarar claramente ao mundo que "a China não é uma superpotência, nem jamais tentará ser. Se um dia a China mudasse de cor e se transformasse em uma superpotência, se ela também desempenhasse o papel de tirana no mundo, e em todos os lugares sujeitar os outros à sua intimidação, agressão e exploração, as pessoas do mundo deveriam identificá-la como social-imperialismo, expô-lo, opor-se a ele e trabalhar junto com o povo chinês para derrubá-lo" (1).

São palavras fortes vindas daquele que foi reconhecidamente um dos maiores estadistas do século XX. A forma de ação da China na ONU é marcada por coerência e defesa de valores muito caros não somente ao país, mas aos povos do mundo em geral. Nunca foi tão importante o lema histórico da diplomacia chinesa da “paz e desenvolvimento”. Em um mundo onde a tendência à violência imperialista tende a aumentar, nunca foi tão necessária a presença de um grande país como a China para servir de contraponto à irracionalidade e a agressividade do imperialismo norte-americano. Os desafios colocados à humanidade não são coerentes com posturas e atitudes hegemonistas, arrogantes e mesmo racistas. Sim, o imperialismo norte-americano é uma potência não somente agressiva, mas que também tem no racismo uma de suas manifestações mais reacionárias.

Sábias foram as palavras do líder chinês Xi Jinping. Ao contrário do líder imperialista Joe Biden que reiteradamente deixou claro em seu discurso o papel de liderança que os Estados Unidos devem exercer no mundo, Xi Jinping demarcou, dizendo: “Os recentes desenvolvimentos da situação internacional mostram, mais uma vez, que a intervenção militar externa e a chamada transformação democrática só acarretam danos. Precisamos defender a paz, o desenvolvimento, a equidade, a justiça, a democracia e a liberdade, que são os valores comuns da humanidade. E rejeitar a prática de formar pequenos círculos ou jogos de soma zero” (2).

Nunca na história a presença chinesa na ONU e no mundo foi tão necessária. A humanidade vencerá!

Por Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ).

Notas:

(1) Speech By Chairman of the Delegation of the People’s Republic of China, Deng Xiaoping, At the Special Session of the U.N. General Assembly. Disponível em: https://www.marxists.org/reference/archive/deng-xiaoping/1974/04/10.htm

(2) Chinese President Xi Jinping UN General Assembly 2021 Speech Transcript. Disponível em: https://www.rev.com/blog/transcripts/chinese-president-xi-jinping-un-general-assembly-2021-speech-transcript

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