Visão: A missão Shenzhou 13 vai ficar para a história do desenvolvimento aeroespacial

É com muita satisfação que a China acaba de lançar sua mais nova missão, a Shenzhou-13, ao espaço. O lançamento foi feito às 13:23 dessa sexta feira, horário do Brasil, no centro de lançamento da cidade de Jiuquan, que fica no deserto de Gobi. Composta por uma tripulação de três taikonautas — que é como são chamados os astronautas chineses —, o comandante Zhai Zhigang liderará o astronauta Ye Guangfu e a astronauta Wang Yaping. Aguardada por muitos, será um marco no desenvolvimento espacial porque a tripulação passará nada menos do que meio ano em órbita, algo impensável em algumas gerações passadas.

Uma das curiosidades que torna essa missão tão especial é a presença da astronauta Wang Yaping no time, trazendo uma bagagem com muita experiência e conhecimento. Ela é capitã das Forças Aéreas Chinesas e já foi ao espaço durante a missão Shenzhou-10, em 2013, como engenheira. Ocasião na qual, inclusive, deu uma aula de física para estudantes chineses, além de conduzir diversos experimentos científicos no laboratório da estação espacial. Ela será a primeira mulher chinesa a sair da espaçonave e realizar uma caminhada do lado de fora, além de ser uma presença muito importante, já que existem evidências que as mulheres apresentam características de melhor adaptação ao isolamento por períodos longos. Isso se deve ao fato de controlarem melhor seu temperamento e possuírem excelente capacidade de reação mediante pressão e estresse. O que, além de ser essencial para viagens desse tipo, já que não requerem força física em um ambiente sem gravidade, faz-se necessário muita força intelectual e, principalmente, emocional.

A equipe chegou ao local de lançamento transportada por um ônibus e se dirigiram imediatamente para a frente das autoridades chinesas, em uma demonstração de respeito e solenidade. O comandante Zhai Zhigang deu sua palavra que a missão seria um sucesso, enquanto um dos militares informou que estariam aguardando a volta segura e vitoriosa deles em Beijing, além de deixar vários votos de sucesso.

A preparação dos astronautas é meticulosa e precisa ser acompanhada de perto por diversos técnicos e oficiais, uma vez que o traje espacial de cada um deles é feito sob demanda e, apesar de otimizar suas movimentações em um ambiente sem gravidade, limita muito seus movimentos aqui na Terra. Durante todo o trajeto dos astronautas, as simulações de comunicação e da sequência de lançamento são repetidas exaustivamente de maneira a se evitar qualquer falha e para também garantir que durante o lançamento e a missão não ocorram situações que ponham a vida deles em risco.

Nesse contexto, o acesso à aeronave é feito por meio de um elevador à prova de explosão como uma das várias medidas de segurança para os astronautas. Além disso, o complexo inteiro foi projetado para assegurar um lançamento seguro, contando ainda com saídas de emergência tanto para a tripulação terrestre quanto para os tripulantes. Isso ocorre porque a prioridade é a segurança de todos e caso situações inesperadas durante o processo de lançamento ocorram, eles devem estar prontos para agir, seja para a continuação do lançamento ou no caso de uma evacuação inesperada.

Conforme o período de lançamento se aproxima, a estrutura que segura o foguete em posição abre, relevando um Longa Marcha 2F. Vale notar que o lançamento pôde ser realizado apenas agora porque estavam aguardando o momento exato que a estação espacial estaria passando por Jiuquan, permitindo que o módulo espacial acople na estação em apenas algumas horas.

É incrível pensar que em apenas alguns meses atrás a missão Shenzhou-12 estabeleceu um novo recorde para a China porque os astronautas permaneceram no espaço por cerca de três vezes mais tempo do que qualquer voo espacial chinês tripulado anteriormente. Como se não bastasse para nos deixar de boca aberta, a missão Shenzhou-13 prevê que seus astronautas permaneçam em órbita por seis meses, um feito extraordinário e digno de novo recorde, em que nosso maior parceiro asiático merece todos os nossos aplausos.

O objetivo da nova missão espacial será o de dar continuidade à montagem da estação espacial Tiangong e aos experimentos científicos já iniciados. Para tanto, serão necessários novo testes críticos de montagem e construção da futura estação espacial chinesa que receberá dois novos módulos em 2022.

Vemos que a China vem se destacando cada vez mais no desenvolvimento aeroespacial e que poderá trazer diversos benefícios para nossa sociedade através do desenvolvimento de novas tecnologias. Esse feito não é apenas magnífico, mas também está sendo acompanhado pelo mundo todo através da internet, já que os resultados das pesquisas contribuirão para aumentarmos nossa qualidade de vida e melhor compreendermos como é a dinâmica física e biológica fora do planeta em que vivemos. Viva a ciência!

por Raphael Panizzi, engenheiro e consultor de soluções tecnológicas