Visão: A tecnologia chinesa ganha novos contornos quânticos, supercondutores e econômicos
Os acontecimentos nos últimos anos sobre a tecnologia quântica, acaba de ganhar um novo capítulo graças ao protagonismo chinês que conseguiu desenvolver um computador com uma capacidade de processamento nunca vista antes. Protagonismo esse que não se restringe apenas ao universo quântico, mas também aos meios de transporte e locomoção de pessoas e mercadorias.
Raphael Panizzi
Antes de mais nada, precisamos entender o que se sucedeu para justificar tamanha importância desses desenvolvimentos tecnológicos. A história dos computadores eletrônicos digitais começa em 1946 com o ENIAC, ou melhor, o Computador Integrador Numérico Eletrônico. Esse primeiro computador era uma máquina que pesava aproximadamente 30 toneladas e ocupava uma área acima de 170 metros quadrados que, na época, custou uma pequena fortuna para ser fabricado. A programação era feita por meio de cartões de papel perfurados e, por incrível que pareça, tinha uma capacidade operacional menor do que as calculadoras que usamos atualmente. Ainda mais impressionante é que, cerca de 30 anos mais tarde, chegavam às prateleiras computadores domésticos com uma capacidade infinitamente superior, aptos a gerar gráficos e processar cálculos com uma velocidade impensável na época do ENIAC.
Seja na década de 1940 com o ENIAC, posteriormente com os primeiros computadores domésticos ou com os portáteis modernos que estamos usando, é inegável a evolução tecnológica que vem transformando essas máquinas em utilitários do dia a dia e que nos auxiliam nas mais diversas atividades e soluções de problemas. Nessa conjuntura, uma nova barreira tecnológica acaba de ser ultrapassada pelos chineses com a criação e testes bem-sucedidos do computador quântico mais veloz do mundo. Aqui cabe uma atenção especial: para quem ainda não sabe, os computadores modernos resolvem problemas através de um processamento binário, limitado à quantidade de bits utilizada e que são distinguidos entre o zero e o um, apenas. Já os computadores quânticos conseguem processar diversas informações em paralelo e de maneira simultânea porque utilizam estados intermediários ao binário, ou seja, não restringindo-se exclusivamente ao estado definido zero ou um. Essa vantagem é duplicada a cada bit quântico utilizado para resolver um problema computacional, podendo aumentar a velocidade de processamento exponencialmente.
Nesse contexto, o time do pesquisador Pan Jianwei, da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, em Hefei, confirmou que conseguiram resolver um problema computacional extremamente complexo em apenas uma hora. Isso não parece ter tanta relevância até sabermos que o computador clássico mais potente da atualidade levaria oito anos, isso mesmo, quase uma década para resolver o mesmo problema. Esse feito abre precedentes inimagináveis para a tecnologia utilizada, afinal, em 30 anos saímos de uma codificação em papel para computadores domésticos totalmente eletrônicos. Imaginem onde essa tecnologia pode chegar em três décadas. A possibilidade de simular com mais velocidade e precisão grandes moléculas, levando a pesquisa biológica e, até mesmo, a indústria farmacêutica à um novo patamar é apenas um dos benefícios que a humidade poderá experimentar. Isso sem falar das simulações numéricas estruturais, codificação do DNA, projetos de máquinas mais modernas e dispositivos eletrônicos infinitamente mais sofisticados.
Os avanços da China no desenvolvimento tecnológico não cessam apenas nessa nova tecnologia. Assim como os computadores quânticos que atualmente estão em processo de pesquisa, de maneira complementar, os supercondutores que eram tema de investigação décadas atrás, hoje mostram sua utilidade prática em um dos meios de locomoção mais rápidos do planeta: o primeiro trem de levitação com tecnologia supercondutora de alta temperatura do mundo foi desenvolvido pela Universidade Jiaotong do Sudoeste. O trem, que ainda está em fases de testes, pode atingir velocidades acima de 600 quilômetros por hora graças a tecnologia chinesa dos supercondutores de alta temperatura que permite ao veículo flutuar nos trilhos sem a necessidade de eletricidade e que contribui para o crescimento da maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo. Para tanto, um modelo aerodinâmico robusto precisou ser desenvolvido no intuito de se reduzir a resistência do ar, além da utilização de materiais mais leves e resistentes, como a fibra de carbono, para diminuir o peso do veículo. Nesse contexto, a tecnologia desenvolvida pelo dragão asiático ajudará o país a reduzir consideravelmente os custos de transporte dentro do seu território, além de contribuir para a diminuição das emissões de poluentes atmosféricos.
Vemos mais uma vez os grandes benefícios desenvolvidos por nosso maior parceiro comercial que poderão ajudar diversos outros países, especialmente o Brasil que conta, ainda, com meios de transporte ineficientes, caros e poluentes, além da necessidade da nossa indústria que carece de tecnologias que possam potencializar a fabricação de peças e acessórios. A parceria Sino-Brasileira se mostra uma estratégia cada vez mais necessária e inteligente para ambos os países.
Autor: Raphael Panizzi - Engenheiro e Consultor de Soluções Tecnológicas