O sonho sobre a Lua da China: a conquista de um novo benefício para a humanidade
Raphael Panizzi
Em 20 de Julho de 1969, o homem estava pisando na Lua pela primeira vez durante a missão espacial Apollo 11, realizada pelos Estados Unidos. Após essa missão houve outras seis até a Apollo 17 e, por incrível que pareça, apesar de tantas idas à Lua, a China recebeu apenas um grama de solo lunar dos Estados Unidos, conforme publicação do The Washington Post.
A última ida, mesmo que não tripulada, para coletar amostras lunares ocorreu em 1976 e foi realizada pela antiga União Soviética por meio da missão espacial Luna 24. Somente 44 anos mais tarde a humanidade conseguiu retornar a esse satélite natural para uma nova coleta de material, através da sonda chinesa Chang’e-5 que faz parte de um ambicioso projeto aeroespacial da China, iniciado em 2004.
A missão da sonda, apesar de muito desafiadora, retornou bem sucedida e com uma carga preciosa contendo dois quilos de matéria-prima lunar, composta por amostras de rochas e solos. Esse feito incrível, que vai ajudar a entender cada vez mais a dinâmica do satélite e a estimar melhor o tempo de vida do sistema solar, teve início com o lançamento do aparelho de exploração espacial no dia 24 de novembro. A decolagem foi feita do centro de lançamento espacial Wenchang, na ilha de Hainan e levou 112 horas para chegar à Lua.
Algo curioso a ser mencionado é o significado que representa o nome de batismo da sonda. Chang’e faz parte da mitologia chinesa e retrata o sonho e curiosidade dos chineses sobre a Lua. Levando-se em consideração a vontade insaciável dos chineses por novas descobertas não poderia sair por menos, afinal os sonhos de antigamente se tornaram uma realidade concreta hoje. Esse resultado foi alcançado porque o gigante asiático vem investindo pesado na pesquisa aeroespacial e, nos últimos anos, conseguiu financiar cinco lançamentos espaciais, além do projeto de criação de uma estação espacial a ser construída dentro de dois anos. Não suficiente esses feitos incríveis, o grande dragão ainda tem em curso uma missão de exploração do planeta Marte, a Tianwen-1, que pode representar o primeiro passo de uma futura colonização daquele planeta.
Aqui no Brasil os avanços em tecnologia aeroespacial ainda engatinham, mas não estão parados. Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações foi criado em 2014 o Fundo de Investimento em Participações (FIP) aeroespacial que contou com uma iniciativa conjunta do BNDES, Embraer, Finep e da Agência de Desenvolvimento Paulista, com um patrimônio inicial de mais de 130 milhões de reais. Somente no ano 2019, o Brasil investiu mais 120 milhões de dólares no setor espacial, segundo dados da Agência Espacial Brasileira. Esse feito representa um marco muito importante para o Brasil e para nosso ministro da ciência, Marcos Cesar Pontes, que, coincidentemente, também é astronauta.
Nesse contexto, uma parceria inédita entre o Brasil e a China deu origem ao projeto CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) que está contribuindo para o desenvolvimento do setor técnico-científico espacial dos dois países e teve como objetivo interromper a dependência das imagens fornecidas por outras nações, conforme publicação do INPE. Com essa cooperação, nosso país obteve uma forma incrivelmente eficaz de monitorar o território através do sensoriamento remoto e, principalmente, por meio de satélites próprios, confirmando autonomia em um novo segmento que, além de importante, é estratégico para a soberania nacional. A parceria sino-brasileira começou com apenas dois satélites e, após os resultados excepcionais obtidos não apenas com o lançamento, mas também com o funcionamento e produção de dados, a cooperação foi estendida para incluir mais equipamentos. Atualmente, o projeto conta com seis satélites que produzem imagens para o monitoramento do desmatamento, das queimadas e das explorações agrícolas, além de auxiliar no acompanhamento do crescimento urbano e na exploração de demais recursos naturais.
O fato de a China estar próxima de ser a nova potência aeroespacial prova a capacidade científica que o povo asiático está demonstrando ao mundo com sua hegemonia econômica, capacidade criativa e enorme talento dos cientistas chineses para ultrapassar antigas barreiras tecnológicas que trarão benefícios para toda a humanidade. Benefícios esses que serão muito bem-vindos para consolidar a importante parceria entre o Brasil e a China na busca de um ganho mútuo, pautado na cooperação tecnológica entre os países.
Autor: Raphael Panizzi