Uma parceria para além da exportação de bens

Published: 2020-12-22 11:27:33
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Divulgadas no início de novembro, as Propostas do Comitê Central do Partido Comunista da China (que funcionam como uma espécie de esboço para o plano) – sobre a formulação do 14º Plano Quinquenal de Desenvolvimento Econômico e Social Nacional e Metas de Longo Prazo para 2035, reforçam o grande enfoque dado ao desenvolvimento de uma matriz energética mais verde.

Há uma década, a China mantém a posição de maior parceiro comercial e principal destino das exportações do Brasil. No entanto, isso ainda é pouco, pois há muitas áreas onde a cooperação entre Brasil e China pode alcançar um novo patamar de desenvolvimento. O setor de energia limpa é uma delas, com amplas possibilidades de aumento de investimentos, geração de emprego e de renda, em ambos os países.

Atualmente, quando se fala de matriz verde, o Brasil é um modelo superior a ser seguido - um paragon ou bangyang (榜样). Possui uma das matrizes energéticas mais renováveis do mundo, composta por 46% de renováveis contra 14% do resto do mundo, de acordo com a Agência Internacional de Energia. O Brasil foi pioneiro mundialmente no desenvolvimento de um amplo programa de combustíveis renováveis, no âmbito do exitoso Programa Proálcool, ainda nos anos 1970. Dessa forma, o objetivo chinês, declarado nas propostas do Comitê Central do Partido Comunista, de implementar uma abertura de alto nível para o exterior e abrir novas perspectivas de cooperação ganha-ganha vem totalmente ao encontro dos interesses brasileiros.

Nesse sentido, o Brasil tem em curso duas iniciativas regulatórias importantes, a saber, o RenovaBio[1] e o Novo mercado de Gás, que pretendem atrair grande volume de investimentos para os setores de biocombustíveis e gás natural, respectivamente. Tratando agora de um setor mais maduro, mas nem por isso menos sedento por investimentos, temos a geração elétrica no Brasil, onde - de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética Brasileira - mais de 65% da capacidade de geração é de origem hidráulica. Nessa seara, cabe destacar as inúmeras possibilidades de cooperação com a gigante de energia chinesa, State Grid. Como o maior serviço público do mundo, de acordo com dados do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC)[2], e com uma receita total registrada em 2018 de US$ 363,1 bilhões, ficou em 2º lugar na Fortune Global 500 de 2016 a 2018. Ainda de acordo com o CEBC, a State Grid possui duas plataformas no Brasil, SGBH e CPFL e ativos totais de cerca de R$ 26 bilhões, 15.700 km de linhas de transmissão. Outra empresa presente por aqui desde 2013, mas menos conhecida, é a China Three Gorges Corporation. O grupo atua em energia limpa, com foco em hidrelétricas de larga escala e já é a segunda maior empresa privada de geração de energia elétrica do país, de acordo com dados do CEBC.

Promover o uso de energia limpa, com baixo teor de carbono, de forma segura e eficiente é uma prioridade para a China. Ela pretende promover uma verdadeira revolução energética, melhorando a produção de energia, sistemas de abastecimento e armazenamento, fortalecimento das garantias jurídicas, dos sistemas de financiamento, de inovação e tecnológicos, para a promoção de indústrias de proteção ambiental em setores-chave da economia.

Faz todo o sentido expandir a exitosa parceria entre Brasil e China no comércio exterior para outras áreas do conhecimento, em especial àquelas com maior teor tecnológico e valor agregado. A China, comparada aos principais países desenvolvidos, tem um histórico de ser muito mais flexível com a imposição de condicionalidades e ser mais aberta a acordos que possibilitem transferência de conhecimento. Não se trata, de forma alguma, de conferir qualquer tipo de preferência ou prioridade à China, mas simplesmente deixá-la sentar-se à mesa de negociação. Quanto mais players no mercado brasileiro, melhor. E, como deve ser em qualquer país capitalista, que vença a melhor proposta.


Escrito por Luís Adolfo Pereira Beckstein, consultor em investimentos estrangeiros e especialista em análise econômica.


[1] O RenovaBio é a nova Política Nacional de Biocombustíveis, instituída em 2017, cujo objetivo é expandir a produção de biocombustíveis no Brasil, uma nova política nacional de biocombustíveis, que inclui submetas para as distribuidoras de combustível aumentarem a oferta de biocombustíveis.

[2] Oportunidades para o Brasil de Uma Parceria Estratégica com A China. Relatório da Conferência Anual do CEBC.


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