A situação das relações comerciais China-Brasil em 2020 e perspectivas de cooperações no futuro

Published: 2020-12-17 17:46:35
Share
Share this with Close
Messenger Messenger Pinterest LinkedIn

Por José Nelson Bessa Maia

Antecedentes

As relações diplomáticas entre Brasil e China começaram em 1974, mas o intercâmbio comercial somente ganhou dinamismo após a entrada da China na OMC. Em 1993, os dois países firmaram uma "parceria estratégica" e, em 2004, criaram uma instância de alto nível de diálogo e cooperação cuja reunião mais recente ocorreu em Pequim em maio de 2020.

Devido ao seu peso na região, o Brasil lidera nos fluxos de comércio chinês na América Latina. Desde 2009, a China é o principal parceiro do Brasil na exportação.[1] A corrente de comércio Brasil-China ampliou-se de forma marcante entre 2000 e 2019 – passando de meros US$ 2,3 bilhões para US$ 98,6 bilhões, 42 vezes mais, chegando a US$ 102,2 bilhões nos últimos 12 meses, terminados em novembro de 2020. Desde 2012, a China tornou-se, também, o principal fornecedor de produtos importados pelo Brasil.

O Impacto da Pandemia de Covid-19

Para prevenir a propagação da pandemia de COVID-19, países em todo o mundo tomaram ao longo de 2020 uma série de medidas restritivas, que afetaram negativamente o comércio internacional de bens e serviços. Segundo a Unctad, o comércio internacional deverá declinar em 20% em 2020.[2] Dentre as economias do G-20, o Brasil expandiu suas exportações em 1,7% no 3º trimestre de 2020 após uma queda de -7,4% no 2º trimestre.[3]

Como a China é o principal comprador de soja e proteína animal do Brasil, a demanda chinesa ajudou a minimizar os efeitos da recessão econômica. O comércio exterior está, assim, contribuindo para aquecer a economia brasileira e estimulando a recuperação industrial. As exportações estão sendo um motor para a retomada do crescimento econômico.


A Recuperação Chinesa e a Expansão do Comércio com o Brasil

Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério da Economia do Brasil, no período janeiro-novembro de 2020, as exportações brasileiras tiveram queda de -7,4%, bem abaixo de muitos países do G-20. Esse resultado deveu-se, sobretudo, ao aumento das exportações para a China, que apresentou incremento de 9,4% no mesmo período, acumulando um valor exportado de US$ 63,1 bilhões. Com isso, a China passou a responder por 32,8% do total das exportações brasileiras (contra 28,1% em igual período de 2019).[4]

Enquanto isso, as exportações para os EUA (o segundo maior parceiro comercial) despencaram em -29,8%, reduzindo a participação americana para 10,3% do total. Isso significa que a recuperação da economia chinesa ajudou o Brasil a enfrentar o colapso do comércio internacional neste ano de pandemia, contribuindo para manter a renda e o emprego nos setores do agronegócio e da mineração (que foram menos afetados pela crise), mantendo o superávit na balança comercial do país e evitando assim a emergência de uma crise cambial.

China-Brasil: parceiros estratégicos e potencial da cooperação

Apesar de pressões de grupos direitistas no Brasil contra a China, as boas relações com o país asiático são estratégicas para a economia brasileira. Os setores empresariais do agronegócio e da mineração são um contraponto aos grupos mais radicais e irão atuar para refrear as ações dessa ala ideológica sobre o governo. Além disso, a derrota do populismo de Donald Trump nas recentes eleições americanas e a posse do governo Biden/Harris certamente reduzirá a polarização entre China-EUA que alimentava o discurso dessa ala extremista no Brasil.

Como já ocorreu no passado, o pragmatismo responsável prevalecerá. De fato, cabe lembrar que foi na época do governo militar e ainda durante a Guerra Fria que o então presidente Ernesto Geisel (1974-1979) reatou relações diplomáticas com a República Popular da China. O então chanceler o convenceu de que era o mais sensato a fazer e que nada tinha a ver com simpatia pelo regime político chinês. Desta vez, o mesmo deverá acontecer!

José Nelson Bessa Maia é economista, mestre em Economia Internacional e doutor em Relações Internacionais. Pesquisador das relações sino-brasileiras.

[1] Cf. Arbache, J ; Maia, J.N.B. O future da China e as oportunidades para o Brasil. Conselho Empresarial Brasil-China, 2019, disponível em: < https://cebc.org.br/2020/09/28/o-futuro-da-china-e-as-oportunidades-para-o-brasil-2/>.

[2] United Nations, The collapse of global trade and implications for developing regions, September 2020, disponível em <https://www.un.org/development/desa/dpad/publication/world-economic-situation-and-prospects-september-2020-briefing-no-141/>.

[3]

Cf. OECD, G20 international merchandise trade rebounds in Q3 of 2020 but remains below pre-pandemic level. 26 November 2020, disponível em: < https://www.oecd.org/sdd/its/International-trade-statistics-Q3-2020.pdf >.

[4] Cf. SECEX, disponível em: http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/comex-vis.

Share

Mais Populares

Galeria de Fotos

Artesanatos decorados com fios de ouro de 0,2mm
Artesão de Hainan produz instrumento musical com cocos
Artista polonês constrói uma casa em formato de chaleira
Escola primária em Changxing comemora o Dia Mundial da Terra
Vamos proteger a Terra com ações práticas
Terras abandonadas são transformadas em parque de chá em Yingshan na província de Sichuan

Notícias

Rússia diz que continua atacando armamento oferecido pelos EUA e Europa à Ucrânia
O “petróleo democrático” com preço subindo
Cidades e vilas chinesas geram 2,85 milhões de empregos no primeiro trimestre de 2022
EUA não querem paz na Ucrânia
Equipe médica chinesa oferece consultas médicas gratuitas em São Tomé e Príncipe
Comentário: Destino de Assange revela a realidade da “liberdade do estilo norte-americano”