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A Peregrinação ao Oeste é um
romance mitológico clássico
chinês muito famoso. Trata
se de uma viagem azarenta ao
oeste, realizada por um
monge da época da Dinastia
Tang, em busca de mantras
budistas. O romance descreve
oitenta e uma adversidades,
resume as peripécias da dita
viagem e tem fundamento
histórico. Como efeito, o
monge Zuan Zang (596-644)
viajou pela Índia durante um
prolongado período de 18
anos, compreendidos entre
627 e 645.
Xuan Zang era um homem sedento
de conhecimentos. Aos 13 anos de
idade, quando foi admitido num
mosteiro budista, começou a
dedicar-se com a aplicação ao
estudo dos sutras budistas,
realizou uma viagem a Luoyang,
Xi’ an, Sichuan, Hebei e outros
lugares para visitar monges de
renome nacional e conseguiu ler
muitos escritos canônicos
budistas. Aos trinta anos, já
era um monge conhecido em todo o
país. Não obstante, não estava
satisfeito com o saber alcançado
e aspirava ir à Índia, berço do
budismo, com a finalidade de
aperfeiçoar-se e conhecer a
fundo a missão dessa religião.
O seu sonho concretizou-se
quando tinha 32 anos de idade,
no ano 627. Nessa altura, o país
vivia em prosperidade e
estabilidade. Estava-se no
reinado do imperador Tai Zong,
que governou a China desde 626 a
649. Além disso, tinha-se aberto
uma rota que conduzia ao oeste,
atravessando a zona de Xinjiang,
o que alentou mais ainda Xuan
Zang a realizar a viagem.
Contudo, a rota que ligava
Chang’an, atual Xi’an, à Índia,
era, por sua vez, extensa e
perigosa. Era preciso cruzar
imensos desertos e montanhas de
difícil acesso; o menor descuido
podia causar a perda da sua
vida
Xuan Zang era um homem de
vontade férrea, o que foi
evidenciado na sua viagem cheia
de aventuras. Um dia, quando
Xuan Zang e os seus
acompanhantes entraram numa
selva da Índia, mais de
cinqüenta facínoras lançaram-se
sobre eles, tendo-lhes roubado
tudo: roupas, utensílios, ouro e
prata. Finalmente, obrigaram-nos
a descer ao interior duma
cisterna seca, para que ali
morressem. Não obstante, foram
salvos graças à intervenção dum
grupo de camponeses que,
ocasionalmente, passavam pelo
lugar. A exceção do monge Xuan
Zang que se mostrava impassível
e sereno, todos os seus
companheiros de viagem choravam
tristemente a perda de seus
bens. Surpreendidos, perguntaram
a Xuan Zang porque não chorava
também, e o monge respondeu:
“Para o homem a vida constitui a
coisa mais valiosa. Que
significado tem a perda de bens
materiais, quando estamos ainda
vivos?”.
Durante a viagem, Xuan Zang teve
de encarar outras dificuldades e
desgraças. Por exemplo, ao
cruzar a zona de Xinjiang,
tinham de atravessar um imenso
deserto, onde, quando fazia
vento, a poeira que se levantava
cobria tudo, e quando o vento
cessava de soprar, as areias que
caiam do céu acumulavam-se como
montanhas e sepultavam os
viajantes. Quando não havia
vento, o calor do deserto era
sufocante, mas à noite, o clima
era tão áspero que os peregrinos
tiritavam de frio.
No romance Peregrinação ao Oeste
conta-se que o monge viajava com
um discípulo talentoso – o Rei
dos Macacos, Su Wukong. Na
realidade, Xuan Zang recebeu a
seu lado um discípulo, um homem
chamado Shi Pantao, em Guanzhou,
atual distrito de Xi’an, na
Província de Gansu. No começo,
Shi era um fiel protetor de Xuan
Zang, mas abandonou-o mais tarde
pelo medo que nele insuflaram os
perigos encontrados no trajeto,
tentando até mesmo matar o seu
mestre. Naturalmente, este
discípulo não era tão admirável
como o Rei dos Macacos, descrito
no romance.
O monge Xuan Zang viu-se sujeito
a inúmeras provas e acabou por
chegar à Índia após um ano.
Visitou ali muitos templos
budistas antigos e teve a
oportunidade de intercambiar
experiências no domínio dos seus
estudos com os famosos mestres
budistas da Índia e consultá-los
sobre as escrituras das
diferentes escolas, assim como
poder ler grande quantidade de
obras canônicas budistas,
inexistentes na China. Além
disso, consagrou-se devoto
durante cinco anos ao
aperfeiçoamento da sua vida
espiritual no sagrado mosteiro
Nalanda Vihar, onde estudou com
afinco os cânones do bramanismo,
as doutrinas das distintas
escolas religiosas da Índia e as
línguas locais dos estados
federados indianos. À medida que
ampliavam os seus conhecimentos,
Xuan Zang ia ganhando fama na
Índia. Em 642, foi organizado um
extraordinário festival budista
numa cidade da Índia, em que
participaram reis e monges de
dezoito países, totalizando mais
de três mil pessoas, além de
incontáveis espectadores. O
festival durou dezoito dias e o
seu objetivo principal residia
em discutir as doutrinas do
budismo. Como nas polêmicas
ninguém pôde vencer Zuan Zang,
os espectadores, jubilosos,
rodearam o monge vencedor e
colocaram-no em um elefante
luxuosamente enfeitado. Assim
montado, o monge deu um passeio
em volta do lugar para receber
felicitações de respeito.
Em 645, Xuan Zang regressou à
China, trazendo consigo mais de
seiscentos livros com escrituras
do budismo. Desgraçadamente, no
rio Rawalpindi, no Paquistão,
cerca de cinqüenta livros
foram-lhe arrebatados pelo vento
e desapareceram nas ondas. Esta
cena enquadra-se no romance como
a última tribulação que o monge
experimentou. Os artistas
criaram posteriormente a imagem
de uma milenar tartaruga que
carregava os livros canônicos
para atravessar o rio e que fez
cair deliberadamente alguns
destes no rio, inculpando o
monge de ter faltado à sua
palavra.
Xuan Zang passou toda a sua
velhice em Chang’an, capital da
Dinastia Tang, dirigiu durante
dezenove anos consecutivos os
trabalhos de tradução para o
chinês dos livros trazidos da
Índia e, na véspera de sua
morte, tinha traduzido um total
de 75 obras budistas, com 1.335
passagens e mais de 13 milhões
de caracteres chineses,
tornando-se desta maneira um dos
maiores tradutores na história
da tradução dos cânones
budistas. O que é mais
importante ainda, é que Xuan
Zang fez incalculáveis
contribuições ao intercâmbio
entre a China e a Índia, os dois
maiores países da Ásia.
Durante 17 anos, Xuan Zang
visitou 110 países, percorrendo
um total de 50 mil quilômetros.
Desde o século 19 d.C., a
Peregrinação ao Oeste da
Dinastia Tang, obra escrita por
ele, foi traduzida para o
francês, inglês, japonês e
alemão.
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