Dois diplomatas viageiros
中国国际广播电台

As épocas de rotura, em que os estados se separavam, eram propícias ao aparecimento do "filósofo viageiro".

Só nos períodos da Primavera e Outono e dos Reinos Combatentes (722 a 221 a. C) existiram possibilidades para que um letrado pudesse viajar de um estado para outro e viesse a atingir uma alta posição. Como os estados se empenhavam continuamente em guerras, os seus governantes ansiavam por novas ideias. Mas se alguns dos letrados de então pretendiam sinceramente solucionar as questões da época, outros não passavam de aventureiros. Eles tinham, por vezes, influências consideráveis sobre os acontecimentos. Dois desses letrados, famosos pelas suas atividades diplomáticas durante os anos dos Reinos Combatentes, foram Su Qin e Zhang Yi.

A história de Zhang Yi e Su Qin reflecte o conflito entre as duas importantes opções políticas da época: seguir o poderoso estado de Qin, que tentava anexar os outros seis maiores estados no leste, chamados "a aliança vertical", ou unir-se com os outros estados na oposição contra Qin, "a aliança horizontal". Su Qin defendia a anterior, e Zhang Yi, a última, e, por isso, eram conhecidos como "os filósofos tortos". Ambos de origem pobre, foram condiscípulos de um reputado polemista. 

Su Qin (m. em 310 a. C) não tinha, no princípio, intenção de contrariar o estado de Qin. Deslocou-se da sua terra natal em Luoyang para o estado de Qin, e descobriu mais tarde que as ideias que pretendia pôr ao dispor de Qin não tinham sido aceites. Voltou a casa, derrotado e pobre, ois gastara todos os seus recursos.

"Se tivesse seguido os meus conselho, optando por uma vida de comerciante, não estava agora nesta situação", lamentou a mãe, e continuou: "No entanto, você insistiu em ser oficial. Ora veja o resultado". Sentada ao lado do seu tear, a esposa não levantou sequer a cabeça, como se ele fosse um desconhecido. Su qin suplicou à cunhada que lhe desse algo de comer. "Nem lenha temos para cozinhar e mesmo se a tivéssemos ... cozinhar o quê?" retorquiu ela.

Afligido, Su Qin decidiu esforçar-se por atingir uma posição política mais alta. Gastou os seguintes dois anos num intenso estudo dos sucessos e fracassos políticos e militares de todos os estados existidos existentes. Trabalhava com frequência até altas horas da noite, e para matar o sono, picava-se com uma sovela até sangrar. A sua conclusão era, agora, justamente oposta à anterior posição que tomara, ocorrera-lhe a ideia de unir os seis estados contra Qin!

Convenceu o duque de Yan do seu poder de argumentação, e conseguiu assim ser enviado como embaixador especial do duque para outros estados. Quando a aliança, liderada por Su Qin, se formou em 333 a. C, Su foi nomeado primeiro-ministro do estado de Zhao. Devido à eficácia da sua autoridade tomou posse da chancela de primeiro-ministro de cada um dos outros estados.

Desta vez, quando regressava a Luoyang, o rei da ainda sobrevivente mas moribunda dinastia Zhou mandou varrer as estradas e enviou um ministro seu a recebê-lo. A idosa mãe de Su Qin saiu para a rua, a dar as boas-vindas ao filho, agora homem respeitável, de roupas exuberantes. Por causa da sua anterior atitude, a mulher de Su não se atrevia a olhá-lo e a cunhada ajoelhou-se perante ele.

"Porque me trata com tanto respeito?" perguntou Su Qin à sua conhada, sentindo-se incomodado.

"Porque tem agora uma posição alta e muito dinheiro".

"É o dinheiro que importa, mesmo aos parentes", suspirou Su tristemente enquanto as metia na carruagem, de regresso a casa. Construiu-lhes uma magnífica morada e distribuiu o dinheiro disponível entre os que tinham compartilhado a sua vida pobre, e lhe tinham concedido alguma ajuda.

Zhang Yi, teve também um início inauspícioso. Viajou até ao estado de Chu, e foi, certa vez, convidado a um banquete. Quando o rei de Chu, a maioria dos duques sob o domínio da dinastia Zhou vangloriavam-se de ser "reis", mostrava uma preciosa peça de jade aos convidados, caiu de repente uma bátega de água e o jade desapareceu. Sendo a pessoa mais humilde e mais modestamente vestida entre os hóspedes. Zhang Yi foi tido omo suspeito. Torturarm-no desumanamente para o forçar a confessar o roubo, mas ele insistiu em não ser ele o ladrão. Voltou a casa, com o corpo coberto de feridas. A esposa chorou: "se não fosse um letrado e não pretendesse obter fama e honra, não teria levado estas pancadas, o melhor que tem a fazer de hoje para o futuro, é ficar em casa!" Zhang Yi abriu a boca e perguntou: "A minha língua ainda está no seu lugar?" Claro que estava. "Enquanto eu tiver língua para expor as minhas ideias, hei de fazê-lo".

Foi em busca do seu velho companheiro de estudo, Su Qin, para lhe pedir a ajuda. Mas ao vê-lo, Su Qin tratou-o friamente, o que o surpreendeu. Quando Zhang Yi chegou a sua casa, Su entretinha-se com os seus hóspedes, e fez com Zhang o esperasse, de pé, no corredor. Muitos manjares extravagantes foram servidos, mas a Zhang Yi só lhe trouxeram a comida destinada aos criados.

Finalmente, entrevistaram-se ambos e Su Qin disse: "Você é mais competente do que eu, eu é que tive sorte. Bastam algumas palavras minhas de recomendação para lhe arranjar um cargo alto. Contudo, se você não se orientar segundo as minhas esperanças, isso vai deixar a perder a minha reputação." Ofendido, Zhang Yi levantou-se e foi-se embora sem dizer palavra. Determinou então experimentar a sua sorte noutro lado, no estado de Qin.

Su Qin contou, pouco depois, a um dos seus assistentes de confiança, que tinha tentado deliberadamente enfurecer Zhang Yi e empurrá-lo para o lado de Qin para o utilizar posteriormente. Su Qin enviou este assistente secretamente para Qin, levando consigo uma grande soma de dinheiro para gastar com o criar, no estado de Qin, as condições necessárias à ascensão de Zhang Yi. Foi assim que Zhang Yi se tornou num ministro de confiança do duque de Qin.

Quando o homem de Su Qin lhe revelou a real intenção deste, Zhang Yi ficou tão comovido que não pode conter as lágrimas. "Su qin é mais inteligente do que eu", disse, "jamais em esquecerei do que fez por mim. Enquanto viver, tudo farei para que o seu plano seja bem sucedido".

Não obstante, Su Qin foi assassinado, pouco mais tarde, por um dos seus rivais no estado de Qi. Após a sua morte, Zhang Yi começou a pôr em prática um plano próprio, que consistia em minar a união dos seis maiores estados, para os sujeitar ao dominio de Qin. A aliança de Su retivera com sucesso durante algum tempo o ataque de Qin, mas, no fim de contas, foi Zhang Yi que ofereceu um plano de triunfo a Qin que conquistaria os outros estados, um após o outro.

Outras histórias acerca das astúcias diplomáticas de Su Qin e Zhang Yi, como as inseridas nas Intrigas dos Reinos Combatentes e Memórias Históricas, de Sima Qian, continuam a agradar os leitores que através dos séculos as têm lido.