Marcos Pires sugere prudência e mais consistência do Brics ante tensões mundiais
O mundo está esperando para ver como os países do Brics vão se coordenar e dar uma voz diferenciada diante do atual cenário mundial com conflito na Ucrânia, bloqueio à economia russa, ampliação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a continuidade da pandemia. Sob esse olhar ansioso, o especialista brasileiro em política internacional, Marcos Cordeiro Pires, sugeriu uma postura prudente dos cinco países emergentes perante as tradicionais alianças de governança global, mas destacou o bom momento para os membros compreender as limitações e interesses um do outro e ganhar mais a consistência.
Para a 14ª cúpula do Brics agendada para dias 23 e 24 deste mês, o professor da Universidade Estadual Paulista prevê que o grupo terá paciência para não fomentar confrontos diretamente com o “mundo ocidental” liderado pelos Estados Unidos. “Uma expressão chinesa diz que não se pode puxar uma planta para que ela cresça mais rápido”, mencionou Marcos Pires, comentando que a conjuntura complexa pode criar oportunidades para Brics construir paulatinamente o caminho multilateral.
Falando da expectativa do encontro dos presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o acadêmico indicou cinco pontos prioritários que podem ser abordados: 1) reafirmação da importância do multilateralismo; 2) confiança nas instituições internacionais, especialmente o reforço do trabalho da Organização Mundial do Comércio paralisado por Washington; 3) aprofundamento da cooperação no âmbito do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), diminuindo impacto da punição arbitraria do sistema financeiro internacional; 4) viabilidade de transações nas moedas dos membros do grupo e garantia de reservas seguras; 5) aumento de trocas interpessoais e culturais, fazendo o mecanismo mais presente no dia-a-ainda das pessoas.
Com a China na presidência rotativa, a cúpula desta edição visa “promover parcerias de alta qualidade e inaugurar uma nova era para o desenvolvimento global”, convidando a participação dos países como Argentina, Arábia Saudita, Egito, Turquia, Tailândia e Gana. Neste aspecto, Marcos Pires é favorável ao “Brics plus”, salientando que é importante construir um maior espaço de cooperação e entendimento entre países em desenvolvimento, baseado em uma institucionalização internacional mais inclusiva.
Crítico do pensamento de soma-zero nas relações internacionais, Marcos Pires acordou que “muitas questões que necessitam colaborar com os Estados Unidos, devem também colaborar com a China e a Rússia”, isso sem falar que os desafios da humanidade e ameaças à segurança global jamais são tradicionais, exigindo cada dia mais a solidariedade de todo o mundo. Ele citou as iniciativas de desenvolvimento global e de segurança global, formuladdas recentemente pelo presidente chinês, Xi Jinping, para os países trabalharem juntos na realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da segurança comum.
Benefícios ao Brasil? O professor da UNESP lembrou que a participação no Brics já enfatiza o prestigio internacional do Brasil e potencializa seu papel como representante da América do Sul. Além disso, o mecanismo tem garantido um relacionamento especial com a China, apesar de divergências e ruídos de comunicação entre Brasília e Beijing. Além disso, propicia diálogos de alto nível do Brasil com os outros países do grupo.
Na entrevista ao Grupo de Mídia da China, Marcos Pires compartilhou ainda observações sobre o desenvolvimento da China e seu futuro caminho para prosperidade comum, além de explicar o que é o ganha-ganha defendido pelos chineses nas cooperações internacionais. Confira!