Luís Beckstein confia na dupla circulação que alavanca recuperação econômica da China
O World Economic Outlook de outubro, divulgado pelo Fundo Monetário Internacional, aponta que a China terá um crescimento de 1,9%, já neste ano, e 8,2%, em 2021. Para o especialista brasileiro em análise econômica e investimentos estrangeiros, Luís Adolfo Pereira Beckstein, a projeção chama muita atenção em meio ao cenário global, observando que a dupla circulação alavanca de forma forte a economia chinesa pós-pandemia.
“A China vem implementando a política que enfatiza o mercado doméstico e investimento estrangeiro desde o 13º Plano Quinquenal (2016-2020)”, lembra Beckstein. Ele explica que o objetivo é aumentar a participação do consumo interno no PIB, com destaque na ampliação do mercado de serviço. No ponto de vista dele, os outros países também se beneficiam disso, como, por exemplo, os Estados Unidos que tiveram benefícios com o aumento do preço expressivo em commodities em função das compras da China. “O fato é que o mercado chinês se tonra, hoje em dia, a grande atração da demanda mundial”, avalia Beckstein, lembrando que o valor de produtos importados pela China alcançou seu patamar mais alto em setembro.
No que se refere à disputa tecnológica-comercial entre os Estados Unidos e a China, Beckstein comentou com um ditado brasileiro: treino é treino, jogo é jogo. Isso quer dizer que a despeito dos discursos dos políticos, os empresários são bastante pragmáticos e sempre preferem buscar bons negócios, dentro do possível. De outro lado, ele percebeu que a China tem uma sabedoria confucionista e tradicionalmente procura se desenvolver e conseguir respeito, e, por isso, não esperava a escalada de tensão tão repentina. De forma geral, viu que o setor empresarial não está preocupado e separa prática da retórica, especialmente durante o período eleitoral nos Estados Unidos.
Falando da parceria Brasil-China, Beckstein também destaca o pragmatismo como palavra chave. Profissional no campo de petróleo, ele pondera que o governo brasileiro tem sido entusiasta na atração de investimento para setores de energia e infraestrutura, com prioridade do próprio desenvolvimento e monetização do pré-sal. Tomando em conta questões como plataformas, transportes e suprimentos, que precisam para exploração do gás e petróleos em um espaço gigantesco, parceiros como China e outros países são muito bem-vindos.
Com base na própria experiência, Beckstein descobre um conceito fundamental na cultura oriental, que é guanxi, uma relação de confiança para os chineses resolverem problemas. Mas sugere que as empresas chinesas atuantes no Brasil entendam a flexibilidade dos brasileiros. “Também somos dedicados ao trabalho, só que necessitamos da motivação certa”, sorriu e concluiu o especialista. De boa expectativa à cooperação entre Brasil e China, Luís Beckstein tem aprendido chinês para se preparar à carreira do futuro.