Embaixador brasileiro na China vê com bons olhos o mecanismo de cooperação do Brics
A 10ª Cúpula do Brics realiza-se entre os dias 25 e 28 em Joanesburgo, África do Sul. O tema desta edição é “O Brics na África: Procurar em conjunto o crescimento inclusivo e a prosperidade comum na 4ª revolução indústrial”. Às vésperas do evento, o embaixador do Brasil na China, Marcos Caramuru de Paiva, concedeu uma entrevista exclusiva à Rádio Internacional da China. Ele disse acreditar que o papel do mecanismo de cooperação do Brics será cada vez mais evidente a longo prazo. O embaixador espera que na Cúpula, os membros do Brics reforcem ainda mais as relações com outros países em desenvolvimento e expressem um posicionamento comum sobre os temas da realidade internacional, tanto econômicos quanto políticos.
O Brasil é um dos fundadores e promotor do mecanismo do Brics, sendo também um grande beneficiado. Marcos Caramuru de Paiva resumiu os benefícios obtidos pelo Brasil como membro do Brics em três partes: Primeiro, o Brasil mantém uma interação íntima e multissetorial com os outros membros do Brics, obtendo benefícios evidentes à economia nacional. Segundo, o país conseguiu reforçar a participação da economia internacional através das novas instituições multilaterais como o Novo Banco de Desenvolvimento. E terceiro, pode manter um diálogo político relevante com outros países de peso na realidade internacional tanto econômica quanto política.
Os países do BRICS já se tornaram, nos últimos anos, no mercado de mais rápido crescimento para as exportações brasileiras. De acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional, o comércio de bens do Brasil para os outros países do Brics em 2016 atingiu US$ 70,4 bilhões, um aumento de 1,7 vezes em relação a 2006. Paiva considera que as relações econômicas e comerciais serão mais dinâmicas a longo prazo.
"Os cinco países são economias que têm melhores perspectivas de crescimento, portanto, o comércio deve acompanhar este crescimento. Por exemplo, o comércio brasileiro com a China tem se ampliado de uma forma muito expressiva, representando em torno de 30% do total, e cresceu 14% nos primeiro seis meses deste ano. E com a recuperação do crescimento econômico brasileiro, o país também terá uma participação melhor nas correntes comerciais como importador. A criação do Brics foi baseada na ideia de que os países terão uma nova dinâmica, e participação relevante na economia internacional nas próximas décadas. E embora estes países tiveram, nos últimos dois anos, um crescimento menos expressivo do que o esperado, tudo aponta para uma recuperação. Acho que isso só ampliará a dinâmica inter-Brics. A recessão no curtísssmo prazo não deve de forma alguma reduzir nosso entusiasmo a longo prazo.”
Além da economia, o mecanismo do Brics também ajudou os países membros a reforçar as cooperações em outras várias áreas. Paiva acredita que o mecanismo desempenhará um papel muito mais importante com o decorrer do tempo.
“O processo do Brics não é só um processo de inserção internacional dos cinco países, é um processo inter-Brics, um processo de busca de cooperações entre os países em várias áreas. E eu acho que esse processo tem sido muito bem sucedido. Nós temos as reuniões nas mais diversas áreas, tais como, saúde, comércio, finanças, relações internacionais, educação e cooperação universitária, cultura, energia, etc. E nós procuramos identificar, dentro dos países, os pontos em que podemos juntos crescer ou juntos promover mais a cooperação, ou juntos em fazer mais na ordem internacional. É um processo que leva tempo, porque é preciso entender as estratégias de cada um dos países em cada uma dessas áreas. É preciso formular propostas aceitáveis para todos. Mas eu vejo esse processo amadurecendo.”
O Brics, como uma instituição multilateral composta por cinco importantes países em desenvolvimento, assume uma grande missão de aumentar a representatividade dos países em desenvolvimento nos assuntos internacionais, apoiar o multilaterarismo e promover a ordem política e econômica internacional mais justa e igual desde que foi fundado. O embaixador brasileiro expera que os membros do Brics aprofundem ainda mais a parceria com todos os países em desenvolvimento durante a Cúpula, e aumentem a participação e a influência nos assuntos internacionais.
“O primeiro é o posicionamento dos países em relalção aos grandes temas da agenda internacional no momento, sobretudo os temas do multilaterarismo, medidas unilaterais. É importante que os países participem de uma grande concertação internacional para promover uma realidade internacional justa e próspera para todos. O segundo é essa dimensão de como nós podemos estar mais próximos dos países em desenvolvimento. A reunão a ser realizada em África é muito significativa, vários países africanos não membros do Brics foram convidados. Na Cúpula do ano passado, em Xiamen, vários países de diferentes regiões também participaram do evento. Podemos ser mais inclusivos numa dimensão de sustentação e apoio à promoção do desenvolvimento.”
A ideia de Xi Jinping de criar uma comunidade de futuro compartilhado da humanidade foi escrita na Constituição da China em março deste ano. Paiva afirmou que a medida é saudada pela comunidade internacional.
“A China mostra com muitas propostas e ideias que nós precisamos cooperar concretamente, para gerar oportunidades para todos. Exemplo disso é a promoção do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, que foi criado por iniciativa chinesa. Outro exemplo é a iniciativa do Cinturão e Rota. Tenho visto na visão chinesa e na visão do presidente, um enfoque muito pragmático e muito objetivo, isto é, precisamos de ações concretas que melhorem as condições econômicas dos países que possam ajudar a promover o crescimento e melhorar a situação das populações de uma maneira geral. Essa é uma visão muito bem-vinda pelos países de renda média como Brasil e pela comunidade internacional, porque é uma visão que procura escapar um pouco da matemática puramente principista. Mas focar no que deve ser feito, nas ações pragmáticas que podem fazer com que os países se aproximem e promvam o crescimento mútuo, com o impacto visível sobre a economia internacional.”
O embaixador brasileiro disse, por outro lado, que as relações comerciais entre a China e o Brasil estão muito dinâmicas. Segundo ele, o comércio tem crescido muito. No primeiro semestre, o comércio bilateral cresceu mais de 14%. O invesimento da China no Brasil também cresceu bastante e é muito diversificado, cobrindo a agricultura, mineração, manufactura, a indústria automóvel, construção civil, infraestrutura, energia, comércio eletrônico, entre outras áreas. O embaixador brasileiro considera que os dois países ainda precisam reforçar os laços de cooperação cultural e os intercâmbios entre os povos.
“Acho que nós temos de atribuir maior importância agora aos projetos entre os povos, promovendo o conhecimento mútuo das culturas brasileiras na China, e chinesa no Brasil. Recentemente, houve muitos projetos novos. Assinamos um memorando de entendimento na área de produção cinematográfica e agora estamos discutindo um novo memorando de entendimento na área de coprodução televisiva, também a cooperação na área do esporte. Essas áreas culturais estão crescendo, mas têm que crescer mais e mais. Esta é uma área importante. Outra área em que ainda precisamos fazer mais é a área do turismo. O Brasil recebe em torno de 6,5 milhões de turistas por ano, dos quais apenas 60 mil são da China. Nós ainda temos muito a fazer nesse segmento.”