Yi Sha é um nome controverso da poesia contemporânea chinesa. Escreve de forma direta, franca e sem exageros nem floreados. Diz que essa é também a sua maneira de ser. Numa conferência na Universidade de Macau, falou aos alunos sobre o seu trabalho. Foi o humor e a honestidade do autor que fez com que caísse de imediato nas graças do público. Numa entrevista exclusiva à Rádio Internacional da China, Yi Sha falou do festival, do seu trabalho e dos problemas da tradução de obras literárias chinesas.
Se pudesse escolher um momento do Festival Literário de Macau, qual seria? Confesso que o que mais me impressionou foi o debate logo no primeiro dia, em que participaram escritores de diferentes países. Teve um impacto forte em mim, em parte devido ao processo de comunicação com pessoas que vivem tão longe de nós. Dou um exemplo, o escritor timorense [Luís Cardoso]. Timor Leste lutou contra a vizinha Indonésia pela independência. Eu pensava que, por isso, os timorenses falavam bahasa. Mas de fato, falam português, o que para mim é um dado completamente novo.
Além disso, reparei que escritores e poetas, independentemente das suas nacionalidades, quando debatiam, mencionavam sempre o desenvolvimento do seu país, a independência da própria nação e dignidade da pátria. Essa forma de pensar apanhou-me de surpresa. Qualquer indivíduo, seja um grande poeta ou escritor, não pode afastar-se da própria nação. Como eu e o outro escritor chinês, Bi Feiyu, as nossas ideias estão também ligadas à atual fase de desenvolvimento da China.
Esteve sempre em contato com os escritores dos outros países? Falei, por exemplo, com escritores franceses e portugueses durante uma conferência na Universidade de São José. Entre o público, estavam principalmente professores estrangeiros, mas também havia estudantes chineses. Foi uma conversa interativa e através de tradutores comunicamos bastante. Acho que esse intercâmbio entre os autores acrescentou muito valor ao evento.
Se os escritores conhecessem bem o trabalho uns dos outros, a comunicação seria mais fácil? Ficou a ideia de que a literatura chinesa é pouco conhecida lá fora. Qual é a sua opinião? Lembro-me de uma estatística sobre o mercado literário nos Estados Unidos. Das obras traduzidas em línguas estrangeiras, as obras chinesas eram as que apresentavam os menores números, muito atrás da literatura japonesa, por exemplo. É um problema que enfrentamos, o mundo olha muito menos para a literatura chinesa.
E disso resulta a falta de tradução de obras literárias? No passado, aproveitamos a revista Literatura Chinesa, que tinha uma versão inglesa e francesa, para divulgar as obras. Porém, a tradução de obras na revista sofreu duras críticas. A tradução do chinês para outra língua, levada a cabo pelos chineses, era de má qualidade. Eu penso que nós, que falamos chinês como língua materna, devemos fazer a tradução de uma outra língua para o chinês. Digo isto porque penso que o nível das línguas estrangeiras que falamos não é suficiente para traduzir obras literárias. Neste aspeto, os tradutores têm sido incapazes. Portanto, neste caso, encontramo-nos numa posição passiva, em que esperamos que nos escolham e que depois sejamos traduzidos por especialistas estrangeiros. Mas de fato, as oportunidades ainda são poucas. E nós próprios não temos forma de mudar este cenário. Temos de promover a divulgação dos escritores chineses e para isso dependemos também do esforço do governo.
Ou através de iniciativas como o Festival Literário de Macau… Sim, tem razão. Na China, também podemos criar um fundo de forma a estimular o interesse de estrangeiros na tradução de obras chinesas.
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