Macau, 15 de março de 2013

por Sílvia Zhu

Alma de Macau

Quando dizemos que gostamos de um lugar ou de uma cidade, é porque aquele lugar ou aquela cidade nos fazem lembrar uma aventura que vivemos, um episódio que aconteceu na nossa vida ou simplesmente uma pessoa que conhecemos. Enfim, são as pessoas que fazem um lugar.

É o caso de Macau. Gosto de Macau porque, nos meus melhores momentos da juventude, passei um ano e tal aqui a estudar junto com os meus colegas de Beijing. Para renovar estas memórias, pisei a terras onde tinha estado há dez anos e acabei por rever a fisionomia de uma cidade onde tinha deixado o meu olhar há uma década.

Em chinês, diz o provérbio: as coisas ficam na mesma, mas as pessoas mudam. A expressão mostra a lamentação da gente diante da rapidez da passagem do tempo. Um outro provérbio diz: os objetos lembram as pessoas. Uma construção, um local ou uma paisagem estão sempre associados às pessoas. Elas são como um conjunto de pérolas, parte do nosso fio de memórias.

A moça que meu atendeu no Instituto Cultural nasceu em Macau. Ela estudou na Escola Portuguesa de Macau e por isso fala um português impecável. Um guarda no Jardim de Lou Lim Ioc ajudou-me a tirar fotos e confessou que nunca tinha ido a Beijing, apesar dos seus filhos conhecerem bem a capital. Também falei com uma portuguesa, mãe de três filhos e dona de uma loja reservada exclusivamente a marcas portuguesas e que se esconde na encantadora Calçada da Igreja de S. Lázaro. Ela contou-me que é lisboeta mas vivia com o marido nos Açores antes de vir para Macau. Após anos longe dos Açores, tem saudades da vida tranquila no arquipélago. Disse-me que, na ilha onde viviam fazem-se caminhadas de norte a sul em uma hora. É pequenina, mas mesmo assim há jovens que preferem ficar na terra, tal como uma prima dela.

Num workshop de escrita criativa, pediram a um idoso que caracterizasse Macau em cinco palavras. A resposta dele foi: macaense, coexistência, amor, romance e provir. Durante a minha estadia, também conversei com o advogado macaense, Miguel de Senna Fernandes, filho do famoso escritor macaense Henrique de Senna Fernandes, cujos romances "A Trança Feiticeira" e "Amor e Dedinhos de Pé" foram adaptados ao cinema. Ele reconheceu que é devido à coexistência e à harmonia entre chineses e portugueses que em Macau existe a comunidade macaense.

Macau é uma cidade que tem alma. É grande e encantadora.

© China Radio International.CRI. All Rights Reserved.
16A Shijingshan Road, Beijing, China. 100040