Entrevista Paloma Amado, escritora e filha de Jorge Amado

As paredes da sala de exposições da Santa Casa da Misericórdia de Macau são só Jorge Amado. Fotografias do escritor brasileiro, capas dos livros que escreveu, momentos da vida e da obra do autor de "Gabriela Cravo e Canela" e "Capitães da Areia". Jorge Amado esteve por várias vezes na China, mas só agora em Macau, pela mão da filha, Paloma Amado.

Que exposição trouxe até Macau? Trouxemos a linha de vida de Jorge Amado, vida e obra, em que você pode ver cada passo, ano a ano, e trouxemos exposições de capas de livros, de traduções, que é uma coisa muito significativa de se ver a abrangência que tomou a sua literatura. Eu vim falar um pouco sobre isso, um pouco do Jorge Amado no mundo.

Que momentos destacaria na vida do seu pai? É muito difícil destacar um momento em particular. Ele foi um homem de uma atividade imensa, eu diria quase que frenética. O meu pai trabalhou muito na sua literatura, na sua luta por um mundo melhor, foi um grande humanista. É difícil destacar um momento. Para mim é dificílimo porque sou filha e ele foi um pai formidável. Acho que um momento que eu guardarei sempre com grande carinho e emoção é o momento da escrita dos livros em que eu tive o privilégio de ser uma das pessoas que acompanhava a leitura que ele fazia dos textos, ajudando nas correções.

Uma grande responsabilidade ter a de perpetuar esse legado... Sim, ele desgostava muito de dizer que quando ele morresse ia ser imediatamente esquecido e que ninguém ia falar dele por vinte anos. Não adiantava dizer que isso era uma bobagem, que não devia dizer uma bobagem dessas, porque ele dizia. E eu e o meu irmão João, que também aqui está, para nós, essa é a grande preocupação que é manter viva a obra dele. E realmente temos conseguido. Ele voltou a ser editado em línguas estrangeiras, muitas vezes com novas traduções, agora diretas do português porque as traduções muito antigas vinham a partir de outras traduções. No chinês fizemos agora novos contratos, estão a sair, já saíram "Dona Flor" e "Gabriela Cravo e Canela". Então é muito bom, no Brasil, ao contrário do que ele pensava, nos três anos em que ele passou para a editora a Companhia das Letras, só de "Capitães da Areia", nós vendemos 800 mil exemplares, de um livro de 80 anos de idade. Para nós, é um número muito significativo.

Em relação à China, ele tinha uma relação muito especial com a China. Tinha sim, ele foi dos primeiros brasileiros a vir à China, veio em 1953, depois retornou em 1955. Uma vez na companhia do poeta Nicólas Guillén de Cuba. Até tem uma foto na exposição, que mostra ele encasacado até ao nariz na Sibéria. Justamente eles fizeram o transiberiano até Pequim, ele e Guillén. Depois veio com [Pablo] Neruda também e depois em 1986, quando o Brasil estava em franca relação diplomática, no final da ditadura militar, nós voltámos aqui. Dessa vez eu vim com ele e fomos a Pequim, a Shanghai, a Xi`an, a vários lugares e foi muito bom, ele teve muitos amigos chineses e na minha casa tinha muitas coisas chinesas.

Nessa altura qual foi a sua primeira impressão da China? Eu vim num momento em que era uma transição, em 1986, já não estava o Mao, mas ainda não havia essa abertura que veio. Me causou muita impressão, tudo era muito diferente de tudo o que conhecia. Gostei muito. Agora, aqui em Macau continuo achando tudo muito diferente. Mas é um povo sobretudo um povo de uma simpatia, de uma ternura, de um calor humano inacreditável. Fiquei devota da China no primeiro momento que pisei aqui.

E em relação ao festival? Uma beleza, escritores maravilhosos, vindos de toda a parte, uma confraternização, a língua portuguesa nos unindo, o nosso chão. Estou feliz, gostando muito.

Jorge Amado esteve em Macau? Não, nunca esteve e veio agora pela primeira vez comigo.

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