"Um Cinturão e Uma Rota" facilita trocas de bens, de pessoas e de ideias - Entrevista com o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva

Published: 2017-09-15 11:15:05
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"Um Cinturão e Uma Rota" facilita trocas de bens, de pessoas e de ideias - Entrevista com o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva


CRI: Portugal mantém uma atitude positiva em relação à iniciativa "Um Cinturão e Uma Rota ". Para o senhor ministro, qual o papel que Portugal pode desempenhar na implementação dessa iniciativa?

Augusto Santos Silva: O bem-sucedido processo de transição de Macau para a China - cujo primeiro marco ocorreu há 30 anos com a Declaração Conjunta - trouxe um assinalável capital de confiança às relações luso-chinesas e uma crescente proximidade entre os dois lados, que culminou, em 2005, no estabelecimento de uma Parceria Estratégica. Na verdade, Portugal tem sabido interpretar, de forma mais correta do que muitos outros parceiros ocidentais, as transformações rápidas e profundas pelas quais a China tem passado. Acreditamos que assim continuará a ser e que, para além disso, Portugal pode contribuir significativamente para uma melhor coordenação entre as políticas de desenvolvimento e os diversos projetos de cooperação no âmbito desta iniciativa, nos domínios infraestrutural, dos transportes ou da capacidade produtiva.

CRI: Desde o início do lançamento da proposta "Um Cinturão e Uma Rota" há três anos, quais foram os avanços que Portugal e a China obtiveram nas áreas comerciais e cultural?

Augusto Santos Silva: No contexto já referido de progressão continua e intensa nas relações bilaterais entre Portugal e a China, destacamos:

i) Ao nível comercial, a crescente interligação económica, tendo o investimento chinês penetrado sectores estratégicos nacionais e as exportações portuguesas para a China registado um aumento de forma sustentada, em redor de 36% ao ano (a China passou da 21ª posição, em 2008, para o 11º lugar, em 2016, no ranking de clientes de Portugal);

ii) Ao nível cultural, a aposta chinesa no ensino da Língua Portuguesa, sendo que as instituições universitárias que a leccionam têm crescido exponencialmente, e Macau tem assumido um papel central enquanto pivot dessa estratégia incentivada pelas autoridades de Pequim.

De referir também o lançamento, previsto para 26 de julho, da ligação aérea direta entre Pequim e Lisboa, a qual abre excelentes perspectivas para a intensificação dos fluxos turísticos e de cooperação empresarial, consolidando, por outro lado, o posicionamento de Lisboa como um grande hub nas ligações aéreas para África e a América Latina.

CRI: China e os países de língua portuguesa estabeleceram um mecanismo de interação positiva por meio do Fórum de Macau. Para o senhor, qual o papel que pode desempenhar esse mecanismo ao impulsionar a implementação da iniciativa "Um Cinturão e Uma Rota"?

Augusto Santos Silva: A China atribui significativa importância a Macau, enquanto plataforma privilegiada de cooperação económica triangular com os Países de Língua Oficial Portuguesa, os quais constituem um espaço económico em franco crescimento. A decorrente expansão da procura de bens duradouros e de serviços nesses mercados oferece oportunidades para a criação de parcerias empresariais que podem beneficiar de financiamentos disponíveis e, em tal contexto, o Fórum de Macau desempenha um papel crucial ao nível do estímulo político mas, também, por via do seu secretariado, na identificação e seleção de projetos de investimento conjunto no âmbito da iniciativa OBOR (sigla em inglês para "Um Cinturão e Uma Rota").

CRI: A construção do "Cinturão e da Rota" persiste nos princípios de consulta mútua, construção conjunta e compartilhamento de resultados e adota como conceitos principais a coordenação de políticas, a conectividade das infraestruturas, o livre fluxo de comércio, a integração financeira e o entendimento entre os povos. Na verdade, ainda falta a força motriz para a retomada do crescimento da economia global. Outro ponto é a persistência da antiglobalização. Qual a sua avaliação sobre o significado da iniciativa "Um Cinturão e Uma Rota" para a economia mundial e as cooperações internacionais?

Augusto Santos Silva: Acreditamos que esta iniciativa constitui um significativo passo em frente nos esforços concertados para facilitar as livres trocas de bens, de pessoas e de ideias através de toda a Eurásia, bem como representa um importante meio para atingir os objetivos comuns de crescimento económico e desenvolvimento social para as populações da região.

CRI: Quais as expectativas do senhor sobre o fórum a ser realizado em breve em Beijing?

Augusto Santos Silva: O Secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, será o representante de Portugal nesse Fórum, que encaramos como sendo de especial interesse estratégico para aprofundar a "ancoragem" do nosso País à Nova Rota Marítima da Seda do Século XXI, assumindo especial relevo, neste contexto, o Porto de Sines e a sua futura ligação ferroviária a Epha.

Entrevista: Inês Zhu, Zhan Liang, José Pedro Rodrigues

Edição: Rafael Fontana

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