Entrevista com economista brasileiro José Nelson Bessa Maia

Fonte: CRI Published: 2020-05-28 16:23:00
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Entrevista com economista brasileiro José Nelson Bessa Maia

José Nelson Bessa Maia, economista, mestre em Economia e Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em estudos chineses e coautor do livro: O Futuro da China e as Oportunidades para o Brasil. Rio de Janeiro: Conselho Empresarial Brasil-China, 2019.


1-Em 2019, o PIB da China aumentou 6,1%, chegando a 99,1 trilhões de yuans. Para este ano, o governo não estabeleceu um número concreto de crescimento econômico, devido à grande incerteza da situação internacional. Porém uma importante meta para este ano é a eliminação completa da pobreza no meio rural. E o governo vai aumentar 9 milhões de emprego na zona urbana.

Como o senhor prevê o desempenho econômico da China neste ano?

Nelson Maia: A China tomou medidas efetivas para suprimir a pandemia de Covid-19. O país inteiro esteve em lockdown em fevereiro. Em março, as medidas de controle foram relaxadas e a produção e os negócios começaram a retomar. Porém, muitas empresas orientadas para a exportação tiveram queda ou cancelamento repentino de vendas devido ao impacto da pandemia na Europa, nos EUA e em outras partes do mundo.

O PIB da China caiu 6,8% ao ano no primeiro trimestre de 2020. O risco de uma possível segunda onda de infecções pela doença significa que medidas de prevenção precisam ser eventualmente tomadas e retiradas à medida que a China inicia o caminho da recuperação econômica. No segundo trimestre deste ano, é provável que o crescimento da China tenha ainda uma recuperação lenta. Todavia, o crescimento em 2020 como um todo dependerá do desempenho no terceiro e quarto trimestres.

Mas dada a resiliência da economia chinesa, seu grande mercado interno e as medidas de estímulo do governo, acredito que a economia crescerá de 1,2 a 2% este ano, contribuindo, assim, para a retomada da economia global e a superação do fantasma de uma grande recessão mundial prolongada. Em 2021, a China deverá 9,2% conforme projeta do FMI.


Como o senhor avalia os esforços da China no alívio da pobreza?

NelsonMaia:Os esforços de redução da pobreza na China já vinham sendo bem-sucedido antes da eclosão da Covid-19. Como os efeitos econômicos do combate à pandemia afetam sobretudo os mais vulneráveis e as pequenas empresas, as medidas oficiais anunciadas com foco no alívio da pobreza me parecem acertadas e deverão atuar como um estabilizador automático para sustentar o nível de demanda da população nessa fase de recuperação. Além disso, tais esforços contribuirão para a coesão social, estabilidade política e a prosperidade mais à frente à medida que as populações mais pobres se sentirão integradas no processo de crescimento do país e com a percepção de que as desigualdades de renda estão sendo superadas.


2-Segundo o relatório de trabalho do governo apresentado pelo primeiro-ministro na sessão anual da Assembleia Popular Nacional, neste ano, o governo vai emitir 1 trilhão de yuans de dívidas nacionais especiais antiepidêmicas e aumentará em 1 trilhão de yuans o deficit fiscal. Esses dois trilhões de yuans serão usados para os governos regionais recuperarem os empregos, melhorarem a vida das pessoas, reduzirem a carga das empresas e ampliarem o consumo e investimento após a epidemia.

Como o senhor avalia esta e as outras medidas que o governo chinês adotou para recuperar a economia?

NelsonMaia:As medidas anunciadas pelo senhor primeiro-ministro estão na direção certa ao canalizar a poupança nacional para financiar a recuperação, ao mesmo tempo em que descentraliza as ações para os governos regionais, muito mais cientes das necessidades locais. O aumento no déficit fiscal é de natureza anticíclica, ou seja, temporária, e será neutralizado à medida que a recuperação econômica promova o aumento real na arrecadação de impostos e o ajuste nas contas públicas.

Outro ponto a destacar é a estratégia de desenvolvimento orientada à inovação e ao empreendedorismo, a busca pela qualidade e a criação de mais marcas, o que reforçará a credibilidade internacional das empresas chinesas e sua maior penetração nos mercados estrangeiros.


3-O governo chinês prometeu ampliar ainda mais a abertura ao exterior. De acordo com o relatório de trabalho do governo, a China reduzirá em grande escala a lista negativa sobre o acesso ao mercado de investimento estrangeiro, lançará uma lista negativa sobre o comércio de serviços transfronteiriços e concederá uma maior autonomia de reforma e abertura para as zonas piloto de livre comércio. O país também acelerará a construção do Porto de Livre Comércio de Hainan e instalará zonas piloto de livre comércio e zonas francas abrangentes no Centro e Oeste do país.

Como o senhor avalia a ampliação da abertura chinesa?

NelsonMaia:As medidas anunciadas para a abertura econômica são importantes num contexto em que outros países criticam a China pela sua elevada competitividadade no comércio exterior e seus superávits comerciais. Demonstram que o país tem um genuíno compromisso com a liberalização de mercados e está se preparando para uma nova onda pós-pandemia de recepção ao investimento de outros países em sua economia, ao mesmo tempo em que remove obstáculos aos investidores estrangeiros interessados em ingressar nos mercados chineses.

Como vê as vantagens chinesas e a perspectiva da China em relação à atração de investimento estrangeiro?

NelsonMaia:Para a China, o investimento direto estrangeiro (IDE) é importante para estimular o desenvolvimento e sustentar sua competitiva economia no mercado global. O IDE ajudou a economia chinesa a crescer significativamente desde que ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, tornando-se a segunda maior economia do mundo. O IDE continuará a desempenhar um papel importante na economia da China se os seus fatores atrativos se mantiverem.

O IDE na China, em 2019, foi de US$ 137 bilhões, segundo a UNCTAD, subindo 5,8% em relação ao ano anterior. A China é o segundo maior destinatário de investimento estrangeiro direto no mundo. Muitos fatores contribuem para o investimento estrangeiro na China, positiva ou negativamente, tais como a estabilidade política, amplo mercado interno e política regulatória do governo.

O tamanho da população da China torna o país atrativo para os investidores alocarem capital em indústrias de ponta, como saúde, tecnologia da informação, engenharia e artigos de luxo. Além disso, o crescimento econômico e o IDE podem iniciar um "efeito dominó de sucesso". Em essência, quanto mais IDE atrai um país, mais ele cresce, o que, por sua vez, estimula mais IDE e gera um crescimento sustentado.

O desenvolvimento da infraestrutura tem sido também um fator importante nessa área. Afinal, estradas, rodovias, ferrovias e pontes são essenciais para o deslocamento da mão de obra e o transporte de insumos e produtos. A China também possui uma força de trabalho produtiva, tanto em número quanto em qualificação e ética de trabalho. Os avanços nessas áreas reduzem drasticamente os custos e aumentam os lucros, permitindo que os investidores obtenham retornos robustos.

As políticas do governo chinês podem ser uma faca de dois gumes, especialmente aquelas que favorecem entidades estatais à custa de empresas privadas de capital fechado, como é a tradição na China. Historicamente, isso tornou a China um destino de investimento menos favorável, onde os investidores de fora que procuram implantar instalações industriais se defrontam com altos custos de transação, forte exposição legal e outros problemas de cumprimento de normas.

Por outro lado, o aspecto positivo é que governo chinês promove investimentos em atividades consideradas relevantes, fornecendo incentivos financeiros atrativos na forma de incentivos fiscais, créditos oficiais a baixo custo e subsídios. Tais incentivos patrocinados pelo governo podem em última análise aumentar a lucratividade e ajudar as empresas a terem sucesso mais rapidamente.


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