Marcos Caramuru é embaixador da plataforma de atração de investimentos chinesa InvestShanghai
O Embaixador Marcos Caramuru, que esteve à frente da Embaixada do Brasil na China de 2016 a 2018, foi nomeado na primeira semana de janeiro como embaixador da plataforma de atração de investimentos de Shanghai, na China, a InvestShanghai. O grupo de embaixadores reúne personalidades do mundo dos negócios que trabalharam pela interação de Shanghai com a realidade internacional, como reforça Caramuru, que foi Cônsul-Geral do Brasil na cidade de 2008 a 2011.
Segundo ele, a InvestShanghai busca "melhorar de maneira abrangente o ambiente internacional de negócios, fortalecer a imagem das cidades estrangeiras, divulgar o ambiente de investimento, expandir os canais de cooperação para projetos de investimento transnacionais e aprofundar as redes e métodos de serviços de investimento transnacionais."
Em entrevista por e-mail à Xinhua, o embaixador festejou o fato de que uma cidade amadurecida e internacionalizada como Shanghai mantenha os propósitos de interagir mais com o exterior, aprofundar laços, atrair empresas e fomentar novos negócios. "Os chineses sempre buscam fazer mais, melhorar. Há outra coisa: os chineses agora pensam em corredores, e Shanghai é a base ideal para penetrar no corredor do Rio Yangtze, que abarca as ricas e desenvolvidas províncias de Jiangsu e Zhejiang", completou.
PERCEPÇÃO BRASILEIRA SOBRE CHINA MUDA
Caramuru observa que há um interesse renovado de empresas brasileiras pela China. Segundo ele, os empresários brasileiros deixaram de apenas se preocupar sobre consequências para o Brasil caso a economia chinesa passasse por processos de hard landing (queda brusca do crescimento) ou de soft landing, ou seja, uma desaceleração progressiva.
Para Caramuru, mesmo exportadores de commodities, como suco de laranja ou café, hoje estudam como criar e desenvolver uma marca para seus produtos na China. O mesmo ocorre com empresários que chegaram ao país asiático por meio de distribuidores e hoje procuram explorar de forma mais qualificada o mercado, influenciar tendências e decidir o que vão mostrar - e não deixar essa escolha apenas para o distribuidor. Segundo o embaixador, também há um grupo de empresários que somente agora tomou coragem para entrar na China e iniciar uma trajetória.
"Em Shanghai, creio que os espaços maiores para atuação brasileira são os que envolvem as empresas de tecnologia digital e o mercado financeiro. Há anos há um esforço de cooperação da Bolsa de Shanghai com o Ibovespa, mas com impacto ainda limitado. Finalmente, Shanghai dispõe de uma área muito aberta de livre comércio que facilita o ingresso de empresas. É possível criar aqui uma base para explorar o mercado pouco a pouco, só pagando os impostos e tarifas quando o produto for internacionalizado. E com a vantagem da livre entrada e remessa de capitais", afirma.
CONQUISTAR MERCADO CHINÊS COM INVESTIMENTO
O tamanho do mercado chinês é destacado como um chamariz por Caramuru, que ainda destaca o fato de os chineses estarem abertos à experimentação de novos produtos e de novas ideias. "A questão é como entrar nesse mercado, como desenvolver uma estratégia de marketing, de branding e de conquista de clientes. O consumidor chinês, seja ele um indivíduo ou uma empresa, tornou-se exigente. E os competidores são sempre muitos", ensina Caramuru.
Apesar das barreiras, o embaixador destaca que há espaço para novos entrantes. Mas alerta que é preciso investir para alcançar o mercado: "em publicidade, imagem, operação no mercado tradicional e no e-commerce. E muitos não estão dispostos ou não têm musculatura para isso".