Uma visão global do espírito português na Ásia: intercâmbio e aprendizagem
Por João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa
A Rota da Seda é, desde 2013, e nas palavras do seu Presidente, uma matéria estratégica para o posicionamento da República Chinesa no mundo.
A Rota Marítima da Seda pode ser, para os objetivos estratégicos de internacionalização de Portugal, um elemento de comunicação fundamental e apoiado na potência mundial de maior crescimento económico e com projetos para abrir a porta do turismo internacional a mais de um terço da sua população nacional.
Para muitos conhecedores da história, a valia estratégica da Rota da Seda terrestre assenta no olhar dos chineses para a Rota Marítima, com redobrado interesse, pois significa a sua presença no Índico do Sul e no Atlântico e o reforço da sua ligação à língua portuguesa e à Europa do Norte e costa Atlântica da América do Sul, onde os produtos chineses chegaram maioritariamente através da via marítima de Portugal.
A organização de um evento global, dependendo dos meios angariados, poderia constituir uma exposição em Portugal, outra na China e, possivelmente, uma itinerância na Ásia e na costa sul oriental de África, caso o projeto do navio «David Melgueiro», em preparação, venha efetivamente a realizar-se.
A Eurásia é uma grande área geográfica que comunica entre si há milénios. Objetos, ideias e conhecimentos foram sendo transmitidos de região para região, pelas mãos de aventureiros, mercadores, missionários ou guerreiros. Ninguém fazia a viagem completa entre o Atlântico e o Pacífico, mas as trocas sucederam-se desde tempos pré-históricos, pois os arqueólogos encontraram artefactos com 5.000 anos oriundos da China em zonas do Mar Cáspio, por exemplo.
O primeiro eixo de comunicação entre os povos euroasiáticos foram vias terrestres que atravessavam vales férteis, desertos e montanhas. No entanto, desde há 2.000 anos estes povos também se ligam por vias marítimas, que começaram por ligar a China à Índia e ao Mediterrâneo. Há cerca de 2.000 anos, quando o Extremo Ocidente e o Extremo Oriente estiveram sob o domínio de dois grandes impérios (o Romano e o Han) o jogo das trocas intensificou-se sem que se concretizasse uma relação direta persistente entre os dois impérios.
Os Descobrimentos Portugueses provocaram uma Revolução Geográfica ao romperem com o medo do “Mar Tenebroso” e ao transformarem o oceano Atlântico numa nova via de comunicação. Com a chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498, a Rota da Seda sofreu um novo impulso. Em 1501, Pedro Álvares Cabral, comandante da segunda expedição portuguesa à Índia, já trazia consigo peças de porcelana, que logo começaram a circular pela Europa como ofertas diplomáticas. Quando Jorge Álvares desembarcou em Cantão concretizou-se, finalmente, a ligação direta entre o Extremo Oriente e o Extremo Ocidente; apesar das dúvidas iniciais, portugueses e chineses entenderam-se, passado meio século, e surgiu Macau.
As relações luso-chinesas marcam, assim, o despontar de uma nova era na história da Rota da Seda em que portugueses e chineses se tornaram em polos irradiadores da cultura material do outro extremo do espaço euroasiático. A porcelana, a seda e depois o chá difundiram-se por toda a Europa, a partir de Lisboa, do mesmo modo que a Ciência europeia foi absorvida pelo Império do Meio, a partir de Macau.
Foi esta nova visão geopolítica e geoestratégica que o presidente Xi Jinping veio trazer à rota da seda transformando-a de uma visão da História que une continentes numa proposta para o futuro das relações pacíficas entre povos. E aqui, a rota marítima da seda pela sua amplitude quase global e pela modernidade dos meios de transporte utilizados e pelo avanço tecnológico e científico que promoveu, assume também um importante papel no conhecimento do futuro para as comunidades do mundo inteiro.
Aportar esta visão conjugando benefícios de um conhecimento histórico, antropológico e cultural do passado com os benefícios de desenvolvimento pacífico do futuro é certamente uma das maneiras mais adequadas de permitir que a nação chinesa, impulsionada pela visão do seu presidente, possa contribuir para um mundo melhor, em paz e sustentado numa economia ambientalmente correta e mais equilibrada para todos.
Uma exposição internacional irradiando de Lisboa, de Cantão, de Sanya (Hainan) até ao mais norte da Europa e a toda a Ásia, África e América do Sul, com um polo na Arábia, em Abu Dhabi, reunindo a rota marítima e a rota terrestre seria a proposta mais certa para o mundo compreender a mensagem chinesa e do seu presidente. Pela sua localização, pelo papel desempenhado no arranque da Globalização e pelo seu secular relacionamento com a China, Portugal reúne as condições certas para ser o parceiro adequado para a propagação desta mensagem e dos seus ideais.
E, para frutificar as potencialidades únicas que uma Ásia, Caleidoscópio de Culturas, pode produzir, intercâmbio e aprendizagem mútua.