Respeito e diálogo: a resposta da China ao conflito Rússia-Ucrânia

Published: 2022-03-21 10:02:28
Share
Share this with Close
Messenger Messenger Pinterest LinkedIn

Desde o dia 24 de fevereiro a Rússia iniciou suas operações militares especiais na Ucrânia, o que o Ocidente consensualmente nomeou “guerra”, embora os russos não o estejam chamando assim, em favor do termo “operação especial para desmilitarização da Ucrânia” . Independentemente de qual seja a terminologia favorita das pessoas, o importante é o entendimento de que, guerra ou não, o fio condutor desse episódio, indesejável e trágico da história de qualquer país, foi uma longa sucessão de intransigências e mal-entendidos que esgotou todas as soluções pacíficas e diplomáticas. Se, por um lado, a Rússia é responsável inconteste pela iniciativa da operação militar, por outro, a nação vizinha mantinha longa articulação com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que era considerado uma ameaça por potências estrangeiras ao Estado russo. O impasse, que já se arrastava, pelo menos, desde 2014, saiu do controle e ganhou as vias de fato há três semanas.

Portanto, não se trata de uma história cinematográfica com mocinhos e bandidos, como quer vender o Ocidente. Trata-se de um problema de retorno urgente aos níveis diplomáticos de relações bilaterais entre russos e ucranianos, com iniciativas reais de apaziguamento, ao invés de injeção de ânimos num (ou contra um) dos lados beligerantes. Ciente disso, a República Popular da China assume um papel relevante na construção do cenário global futuro. Inclusive, na prevenção ao cenário de guerra total, o que fatalmente envolveria tantos países que resultaria na Terceira Guerra Mundial.

Muitos se perguntam, ou maliciosamente apontam, que a China “apoia a Rússia e seu tirano invasor de países soberanos”. E, para tal, levantam argumentos absurdos, como o de que os dois países são comunistas e de que haveria um plano para fragmentação do Ocidente, o que não leva em consideração que, 1. a Rússia não é comunista há 30 anos, recém-completos no dia 26 de dezembro, data da extinção da União Soviética (URSS) em 1991; 2. a China se reformou dentro do comunismo, em 1978, e hoje opera segundo as leis de mercado para o desenvolvimento do capitalismo global, sendo a doutrina marxista uma ferramenta para atuação do Estado em benefício e defesa dos mais pobres; 3. já naquela época, a China tinha assumido posição soberana, tendo iniciado sua abertura ao mundo capitalista com a aproximação com os Estados Unidos nos anos 1970, num dos grandes momentos de encontro entre a diplomacia ocidental e a chinesa.

Esta, inclusive, é fundamental para entender a posição atual da China quanto ao conflito no Leste Europeu. A diplomacia chinesa, fundada sobre o pensamento milenar de filósofos como Laozi (Dao De Jing) e Confúcio (Analetos) , e hoje complementada pela perspectiva popular de Marx e Lênin (Imperialismo: Estágio Superior do Capitalismo) , preconiza valores diferentes da Ocidental. Se no Ocidente, norteado por pensadores como Platão (A República), Maquiavel (O Principe) e T. H. Lawrence (Os Sete Pilares da Sabedoria), a ideia de relações internacionais se orienta pelo excepcionalismo nacional ou prevalência de determinada cultura, interpretando os próprios valores como universais, na China ocorre o contrário.

O princípio milenar chinês, aliado à sua ótica socialista, é o do bem-viver, isto é, de encontrar um caminho de colaboração mútua para que haja ganhos recíprocos . Deste modo, a inexistência de competição, substituída pelo trabalho conjunto, oferece aos povos uma ferramenta mais sólida de desenvolvimento. Eventualmente, esta medida é menos acelerada para um, que renuncia a ganhos imediatos para que outros avancem, mas também com mais garantias para o próprio abdicante, visto que quaisquer ganhos são melhores quando todos ao redor também ganham. É o que se chama popularmente, na China, de doutrina do “ganhar-ganhar” .

A essa filosofia, que ajudou a construir o império chinês por milhares de anos, somou-se, no século XX, a concepção marxista-leninista de enfrentamento à dominação estrangeira pelo imperialismo, cabendo aos trabalhadores de todos os povos a sua autodeterminação, invulneráveis a qualquer ideal de excepcionalidade de países colonialistas. Portanto, quando a China reconhece um país recém-saído de um cenário conturbado de insurreição popular, onde há parcos avanços nos direitos civis, como o Afeganistão, não significa que está endossando os seus problemas internos, mas abraçando o seu povo para que ele se estabilize, encontre seus mecanismos de justiça e avance. Isolado, um país jamais se recuperará ou fará ajustes no seu sistema social.

Igualmente, retornando ao caso Rússia-Ucrânia, assumir um lado do conflito, segundo o pensamento chinês, é jogar mais combustível no motor do conflito, sem resolver os reais problemas que levaram a ele. Parece estranha aos chineses a forma como o Ocidente responde ao conflito com mais violência, disparando declarações ameaçadoras e guerras econômicas que, inclusive, negligenciam outros tantos momentos recentes em que os agressores foram as potências ocidentais, como os ataques norte-americanos ao Iraque, Síria, Yemen, Somália, além do apoio europeu à guerra na Líbia. Todos esses conflitos foram incapazes de solucionar as injustiças internas desses países, que eram reais, mas só se tornaram mais profundas.

A China pede paz e trabalha efetivamente por ela, neutra quanto aos conflitos, mas ativa em benefício da classe trabalhadora de todo o mundo.

Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional

Share

Mais Populares

Galeria de Fotos

Livraria Zhongshuge atrai visitantes com seu design elegante
Shenzhen abre refúgios para entregadores em meio ao novo surto de Covid-19
Preços dos combustíveis têm maior aumento em nove anos na China
Paisagem de flores de colza na vila de Baojiatun, na província de Guizhou
Placas de energia solar são instaladas sobre telhados de prédios residenciais em Zhengzhou
Colheita de folhas do chá da primavera começa em Nanjing

Notícias

Primeiro-ministro húngaro realça necessidade de cooperação com a China
Wang Yi: China e outros países em desenvolvimento têm opiniões semelhantes sobre situação na Europa
Comentário: o mundo quer ver a sinceridade dos EUA
Xi Jinping realiza sincera e profunda troca de opiniões com Biden
Chanceler chinês reúne-se com secretário-geral da OCS
“Abertura e transparência” norte-americana são palavras vazias