Comentário: China mostra racionalidade e contenção nas contramedidas tarifárias
A China anunciou na sexta-feira passada (23) que seguirá com as prometidas tarifas adicionais sobre as importações norte-americanas, no valor de cerca de US$ 75 bilhões. As tarifas adicionais, de 10% ou 5%, serão introduzidas em duas parcelas. A primeira entrará em vigor em 1º de setembro e a segunda em 15 de dezembro. Além disso, a China continuará a impor tarifas adicionais de 25% ou 5% em carros e autopeças fabricados nos EUA a partir de 15 de dezembro.
A medida, uma resposta aos recentes aumentos das tarifas norte-americanas sobre os produtos chineses, é necessária para Beijing combater o unilateralismo e o protecionismo comercial de Washington. A China demonstrou mais uma vez que jamais se curvará a pressões extremas.
Os agricultores de soja norte-americanos serão uma das maiores vítimas do comportamento “caprichoso” de Washington. A China tem sido historicamente o maior mercado para as exportações agrícolas dos EUA. Em 2017, 57% das exportações de soja estadunidense foram destinadas à China. Mas a cifra caiu para 17,9% desde o início do ano passado, quando os EUA começaram a provocar os atritos comerciais. Depois que os presidentes Xi Jinping e Donald Trump chegaram a um consenso na reunião do G20 em Osaka em junho passado, a China voltou a importar soja dos EUA, de acordo com suas demandas domésticas. Mas o progresso foi novamente interrompido devido ao retrocesso de Washington sobre o consenso, que prejudicou as condições necessárias para levar adiante os termos do comércio agrícola. Segundo as estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA, os produtores de soja norte-americanos devem ficar com um nível recorde de estoques até dia 31 de agosto.
O petróleo bruto produzido nos Estados Unidos foi pela primeira vez incluído nos itens submetidos às contramedidas chinesas. No ano passado, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor de petróleo do mundo, e a China, o terceiro maior importador de petróleo bruto dos EUA, consumindo 11% das exportações americanas. A percentagem caiu para 2,6% devido à escalada das tensões comerciais provocadas por Washington.
Outro setor a sofrer prejuízos é a indústria automobilística norte-americana. Como o maior mercado de automóveis do mundo, a China reduziu significativamente as tarifas de importação de automóveis e autopeças desde 1º de julho do ano passado. Mas os fabricantes de automóveis e fornecedores de autopeças dos EUA não foram beneficiados e se tornaram vítimas de várias rodadas do conflito comercial provocado pelos próprios EUA. No final do ano passado, a China decidiu suspender as sobretaxas sobre veículos e autopeças dos EUA depois que os dois chefes de Estado chegaram a um consenso durante a cúpula do G20 em Buenos Aires. Mas Washington continuou aumentando a tensão, renegando suas próprias palavras, o que deixou a China sem outra opção a não ser retomar as tarifas sobre carros e autopeças dos EUA.
É importante notar que a China não direcionou a sobretaxa aos produtos que sejam essenciais para o bem-estar público, mostrando a restrição racional do lado chinês.
Pouco depois do anúncio de Beijing na sexta-feira, Peter Navarro, conselheiro comercial da Casa Branca, afirmou que os US$ 75 bilhões de tarifas “não são algo para o mercado acionário se preocupar”. Mas os três principais índices de ações dos EUA caíram logo após as bolsas abrirem as negociações.
A China expressou repetidamente sua disposição de adotar uma abordagem cooperativa para resolver as disputas comerciais sino-norte-americanas. Mais uma vez, Beijing deixou claro que jamais cederá em questões de princípio. Políticos norte-americanos devem provavelmente se lembrar bem disso.
Tradução: Inês Zhu
Revisão: Diego Goulart