Comentário: flexibilidade da economia e grande mercado são as “munições” da China na guerra comercial
Na entrevista com Lesley Stahl, jornalista do 60 Minutes da CBS, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que a China já esgotou sua “munição” para retaliar os EUA na guerra comercial.
No programa transmitido na noite do domingo (14), horário local, Trump negou que exista uma guerra comercial e a chamou de “pequenas escaramuças”, mesmo tendo falado em “guerra comercial” um dia antes. Ele disse a Lesley Stahl que está considerando esfriar essas “pequenas escaramuças” com a China, porque a China já não tem “munição” para retaliar.
A China publicou recentemente sua política tarifária contra os produtos norte-americanos em US$53,1 bilhões como retaliação às tarifas dos EUA sobre os produtos chineses, no valor de US$ 200 bilhões. Para Trump, a contramedida desigual tomada pela China significa que Beijing já não é capaz de retaliar os EUA à altura.
No entanto, Trump joga um “jogo de números”. Para a parte chinesa, a guerra comercial não é um jogo, mas sim um assunto relacionado a milhares de empresas e consumidores. O governo norte-americano escalou a guerra comercial desafiando amplas oposições domésticas e internacionais, com o objetivo de realizar sua chamada meta de “América Primeiro”. A China não vai entrar nesse jogo só para “lutar uma luta”. O princípio do governo chinês é salvaguardar os interesses do povo chinês e dos povos de todo o mundo, além de defender o livre comércio e o multilateralismo.
A resposta racional e cautelosa da China não significa que o país esgotou sua “munição”. De fato, a flexibilidade da economia e o grande mercado que a China possui é a pesada “munição” para retaliar os EUA nessa guerra comercial.
A economia chinesa tem registrado por 12 trimestres consecutivos um crescimento de entre 6,7% a 6,9%, e o modelo de crescimento passa por mudanças, deixando de ser excessivamente dependente da exportação e investimento para um impulso trazido pelo consumo, pela indústria de serviço e pela demanda doméstica.
Em 2017, o volume econômico da China atingiu US$ 12,7 trilhões, e a exportação superou US$ 2,26 trilhões. Os produtos chineses no valor de US$ 20 bilhões ocupam apenas 8,8% da exportação do país. As perdas na guerra comercial com os EUA são aceitáveis e a China pode digeri-las. Por esta razão, o Banco Mundial ainda chamou a China de “um país com uma tendência de forte crescimento” no seu recente publicado relatório China Economic Briefing.
Por outro lado, a China tem aplicado uma série de medidas para ampliar sua abertura ao exterior, atraindo mais investimentos de capitais estrangeiros. A BMW anunciou recentemente seu investimento de três bilhões de euros no mercado chinês. A Exxon Mobil Corporation acabou de assinar um acordo de investimento na China no valor de US$ 10 bilhões, e a Tesla anunciou em julho a construção de sua primeira super fábrica no exterior, em Shanghai.
Os chineses sempre acreditam que “amizade gera fortuna”. A China expressou em muitas ocasiões que não queria uma guerra comercial de qualquer forma com qualquer parceiro comercial. Se o presidente Trump pretende “esfriar” as fricções comerciais, a China aplaude. Mas caso Washington continue aumentando as pressões, a China retaliará com sua “munição” de flexibilidade econômica e a potência do mercado.
Tradução: Li Jinchuan
Revisão: Layanna Azevedo