Comentário: onde reside a competitividade dos chineses?
Anos atrás, um estudante brasileiro veio a Beijing visitar amigos. Enquanto não terminava o horário do expediente, o brasileiro ficava esperando o amigo chinês no seu escritório. No jantar, os dois jovens discutiam a impressão que eles tinham um do país do outro. O brasileiro não poderia deixar de dizer que os chineses são muito dedicados ao trabalho, e ficam no serviço até as 6 da tarde!
Já a revista The Economist citou um exemplo parecido: Uma aluna chinesa estudou na Alemanha e comentou a amigos locais que os alemães são bem preguiçosos. Essas palavras surpreenderam todos. Afinal de contas, os alemães são mundialmente conhecidos pela diligência.
Ao falar do empenho da nação, a maioria dos chineses não se sente estranha. Desde a infância, os chineses são ensinados repetidamente pelos pais e avôs a estudar com mais afinco. A cultura tradicional chinesa baseia-se na civilização agrícola. Os prevérbios antigos disseram que “Deus só recompensa o diligente ” e “o trabalho duro pode muitas vezes compensar a falta de inteligência”. Como no caso do grande escritor chinês, Lu Xun, ele dizia não existir tantos talentos no mundo, e quem se sobressai apenas abdica do tempo do cafezinho para trabalhar.
Hoje em dia, as pessoas na China levam uma vida confortável e raramente se preocupam com as necessidades básicas. No entanto, surgem os chamados “pai e mãe tigres”, que adotam uma criação severa e rigorosa dos filhos para que eles tenham um futuro brilhante através dos estudos. Os pais sempre gastam muito tempo e dinheiro na educação dos filhos. Até nos fins-de-semana eles participam juntos de cursos extracurriculares.
A China alcançou consideráveis êxitos e avanços nos últimos 40 anos, o que resultou não somente das políticas adoptadas pelo governo central como também da dedicação dos cidadãos. O trabalho duro mudou a vida, reconfigurou a sociedade e transformou a nação.
Há veículos de comunicação estrangeiros que criticam o investimento chinês em outros países, acusando empresas chinesas de empregarem mais funcionários próprios do que os locais. Ignorando a racionalidade desta afirmação, queremos questionar por que os chineses podem trabalhar horas extras e por que podem garantir a conclusão da obra dentro do prazo. Talvez porque a diligência e a eficiência fazem parte da personalidade dos chineses e constituem sua competitividade natural.
O sócio da Sequoia Capital, Michael Moritz, publicou um artigo no Jornal britânico Financial Times, no qual aconselha os funcionários do Vale do silício a aprender com os colegas chineses. Ele escreveu que na China os gestores seniores trabalham das 8h às 22 horas, enquanto os engenheiros só saem da empresa por volta da meia-noite. Na China, os trabalhadores têm apenas duas semanas de férias por ano.
Os funcionários públicos da China também são diligentes como os empresários. Lembro-me de trabalhar como tradutor para uma delegação oficial. A agenda estava lotada e eles tiveram encontros e reuniões de sol a sol. O povo é o juiz para avaliar o desempenho do governo. De acordo com uma reportagem da Reuters, o relatório de Confiança Edelman 2018 constata 84% de aprovação do povo chinês ao seu governo. Das pessoas altamente educadas, 89% manifestam satisfação com a governança do país, classificando o país no primeiro lugar do ranking mundial.
Qual a origem do espírito de diligência? O escritor Jin Yong escreveu no seu romance de artes marciais um ditado famoso: “O autêntico herói luta pela nação e pelo povo”. Seria uma justificativa perfeita. As pessoas trabalham duro para melhorar a qualidade de vida da família. E a família é um pequeno Estado, enquanto o Estado é formado por milhares de famílias. O que a China conquistou hoje se deve à contribuição de cada cidadão.
É necessário esclarecer que trabalhar duro não é obrigatório como uma regra do politicamente correto, e a legislação da China tem garantido o direito de descanso dos trabalhadores. Entretanto, a tradição de ser diligente está enraizada no brio dos chineses, mesmo que a China se torne um dia um país bem avançado. Caso contrário, as pessoas se perderão e não saberão para onde ir.
Comentarista da CRI: Xu Qinduo
Tradução: Isabel Shi
Revisão: Rafael Fontana