Comentário: Não se deve destruir a ponte depois de atravessá-la
A União Europeia (UE), o Canadá e o México anunciaram que adotarão “medidas equivalentes” como resposta às sobretaxas sobre o aço e alumínio impostas pelos Estados Unidos. Esta disputa comercial se dá entre os Estados Unidos e outras diversas partes, mas segundo as vozes do Ocidente, “é derivada” da China, considerando que o excesso chinês na capacidade produtiva provocou o excesso dos produtos de aço e alumínio no globo.
O secretário norte-americano de Comércio, Wilbur Ross, ao prestar um depoimento no Senado, disse que seu país possui um superávit com o Canadá no comércio de aço. Porém, salientou que a estratégia do governo norte-americano é impedir que os produtos chineses de aço entrem no seu mercado doméstico através de outros países que gozam de tarifas preferenciais.
Acusações como a de Ross remontam ao final de 2008, quando a China decidiu adotar um estímulo econômico no valor de 4 trilhões de yuans. Na realidade, o excesso chinês da capacidade produtiva hoje tem, em certo grau, relação com essa medida de dez anos atrás. No entanto, pessoas como Ross fingem-se ingênuas, mas se esquecem que a medida chinesa salvou a economia global, incluindo os blocos econômicos ocidentais que estavam mergulhados na crise.
Em 2008, quando a crise das hipotecas “Subprime” dos EUA se expandiu e provocou a crise financeira global, a China viu o aumento negativo nas exportações com empresas suspendendo a produção. Nesta circunstância, o governo chinês decidiu resolutamente, no final do ano, aplicar uma série de medidas de investimento e ampliação da demanda interna. Mais tarde, a economia chinesa foi a primeira do mundo a se recuperar da crise, com um crescimento anual de 9,2% e 10,3% em 2009 e 2010, respectivamente.
Beneficiado pela China, o mercado internacional de commodities, incluindo bronze, carvão, minérios de ferro e petróleo, foi estimulado. Como consequência, os blocos econômicos mergulhados em dificuldades, como Canadá e Austrália, conseguiram sair da crise. Em 2009, graças ao desempenho da China que contribuiu para mais da metade do aumento do PIB global, as economias norte-americana e europeia se recuperaram gradualmente. Naquela altura, a imprensa internacional não poupou elogios e agradecimentos à China pelas suas ações. O jornal de Singapura, Lianhe Zaobao, elogiou: “Salvar a China é salvar o mundo. Se a China estiver bem, o mundo terá esperança.”
Ao conhecer o contexto de dez anos atrás, quando a China salvou o mundo, as pessoas devem tratar da questão do excesso de capacidade produtiva com uma atitude razoável, um inevitável efeito negativo trazido pelo estímulo econômico que o governo chinês adotou a uma década atrás. O “excesso de capacidade produtiva” obviamente não foi intencional, e a China tem se esforçado nos últimos anos para resolver esta questão, obtendo resultados positivos e visíveis.
Segundo estatísticas do Ministério do Comércio, a China tem reduzido a capacidade produtiva da indústria de aço em mais de 10 milhões de toneladas desde 2016. E apenas neste mesmo ano, o país ajudou mais de 200 mil operários da indústria a encontrarem empregos em outros setores, número que supera o total de empregados da indústria de aço dos EUA, e também do Japão. Sem dúvida nenhuma, a China lidera o mundo quanto à diminuição da capacidade produtiva excessiva de aço.
Em relação ao alumínio, o excesso da capacidade produtiva é uma questão falsa, pois, o seu preço atual já reflete basicamente a verdadeira relação entre oferta e demanda. Ninguém acreditará que o setor de alumínio exceda a capacidade produtiva, pois a taxa de operação ultrapassa 80% e, da mesma forma, 80% das empresas do setor geram lucros. Além disso, o desenvolvimento do setor chinês de alumínio visa atender à própria demanda, mais contribuindo à indústria mundial do que causando impactos.
Infelizmente, os blocos econômicos ocidentais não possuem uma atitude objetiva para com os esforços e efeitos chineses na redução do excesso de capacidade produtiva. Segundo o acordo para a adesão da China à OMC, o país asiático será automaticamente reconhecido como uma “economia de mercado” 15 anos após a sua entrada na organização. Porém, os Estados Unidos, a Europa e o Japão se recusam a reconhecer a China como tal, sendo uma das razões o chamado “excesso de capacidade produtiva”! Há uma década, a China salvou a economia mundial com 4 trilhões de yuans, mas agora, o país sofre os efeitos secundários, e ainda recebe acusações dos beneficiários. Será isso equitativo e justo?
Acadêmicos ocidentais apontam que devido à política “America First”, os Estados Unidos, sob a governança de Donald Trump, perde gradualmente a “liderança moral” no globo. Hoje, com a globalização, os países se interligam e são interdependentes no desenvolvimento, sendo vergonhoso e inaceitável o ato de destruir uma ponte depois de atravessá-la. O mundo se beneficiou do estímulo econômico chinês de 4 trilhões de yuans, e hoje, deve em troca enxergar a questão do excesso da capacidade produtiva com uma atitude objetiva e racional, defendendo a moralidade e justiça.