Os chineses falam português
  2011-09-19 14:37:53  cri

Você sabia que no Oriente, entre 4º e 53º graus da latitude norte e 73º e 135º graus da longitude leste milhares de pessoas falam português? Não se espante em saber que essas coordenadas geográficas são da China. Nas últimas décadas do século 20, apenas duas universidades em todo o país formavam estudantes em língua portuguesa, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing, no norte da China, e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, no sul.

No entanto, com a intensificação dos intercâmbios com os países de língua portuguesa, o número de universidades que ministram o curso superior do idioma saltou para 14 no continente chinês.

 

No 1º Fórum de Ensino da Língua Portuguesa na China realizado no final de agosto, em Beijing, professores de português de todo o país se reuniram pela primeira vez para trocar experiências e discutir problemas observados no ensino do idioma. Dados repassados durante o evento mostram que o número de formados somente na última década ultrapassou o total dos 40 anos anteriores. Num passado não tão distante, o português era visto como uma língua exótica, minoritária se comparada ao inglês, francês ou alemão, realidade que mudou com o tempo.

Como os primeiros professores vieram de Macau ou se formaram nos países lusófonos da África, a maioria das universidades chinesas preservam a tradição de ensinar o português falado em Portugal. Uma das exceções é a Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong, cujo corpo docente de quatro professores é integrado por duas que têm sotaque brasileiro. A professora Yang Jing nos conta como é trabalhar com diferentes sonoridades da mesma língua.

Sonora1 : professora Yang Jing fala da situação do curso de português

Como qualquer disciplina em fase de implementação, a falta de professores, sobretudo qualificados, é o grande desafio ao ensino do português na China, como explica o professor Ye Zhiliang, da Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing.

 

A maioria das universidades chinesas tem parcerias com instituições de ensino estrangeiras e, estágio de um ano no exterior como disciplina obrigatória da grade curricular. A ação, claro, busca um ambiente propício à consolidação do idioma, mas também é consequência do número relativamente pequeno de professores na China e da falta de material didático apropriado. O curso de língua portuguesa da Universidade de Economia e Negócios Internacionais, criado em 2009, o mais jovem de toda a China, vai enviar seus alunos do terceiro ano à Universidade de Coimbra, em Portugal.

Estudar fora é fundamental para quem quer dominar um idioma, mas disso decorrem alguns problemas. Além da dificuldade financeira enfrentada por determinadas famílias, o professor Ye Zhiliang, da Universidade de Estudos Estrangeiro de Beijing, vê com preocupação a inadequação dos cursos no estrangeiro e a falta de comprometimento dos estudantes.

A falta de material didático apropriado é a outra dura realidade enfrentada por quem ensina português na China. Muitas universidades usam manuais e gramáticas editados para os nativos da língua, nem sempre adaptáveis aos alunos chineses. Xu Yixing, professora da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, revela que hoje cada instituição de ensino produz seu próprio material, mas que no futuro ele deve ser padronizado na China.

Após os quatro anos aprendendo português a partir do zero, os recém-formados saem ao mercado de trabalho e se deparam com uma realidade completamente distante da que vivenciaram no meio acadêmico. Maria José Grosso, professora de Letras da Universidade de Lisboa e diretora de Avaliação de Português Língua Estrangeira, sinaliza os pontos fracos dos estudantes chineses de português.

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