Depois de 1999
  2011-09-19 14:12:15  cri

Em 20 de dezembro de 1999 Macau regressou à China, encerrando a história de mais de 400 anos da administração local por Portugal. Desde então, o governo da Região Administrativa Especial de Macau estabeleceu o português como uma das línguas oficiais da região, ao lado do cantonês e do mandarim. Àquela altura, muitos apostavam que o idioma não sobreviveria em Macau. Dez anos depois, em que estágio a língua portuguesa se encontra? Vamos saber na reportagem.

O Instituto Politécnico de Macau (IPM) é o pioneiro no ensino da língua portuguesa na Ásia, uma história que começa em 1905. De acordo com Li Xiangyu, reitor do IPM, o interesse pelo português diminuiu nos anos que antecederam e sucederam o retorno da administração de Macau à China, apesar do considerável estreitamento das relações entre o país asiático e os de língua portuguesa. Mas esse quadro foi revertido pouco tempo depois.

"Antes da transferência do poder, houve realmente uma grande quebra. O número de candidatos diminuiu bastante. Naquele momento, havia preocupações sobre como seria o futuro de Macau. Depois, nosso instituto decidiu entrar no grande mercado do continente chinês. Em 2000, começamos admitir estudantes de Shanghai, Beijing e de outras cidades. O número de candidatos aumentou gradativamente, em particular no ano de 2003, quando o governo Central de Beijing decidiu criar o Fórum de Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLPs). Isso impulsionou o aumento no número de interessados no nosso curso de português."

O Instituto Politécnico de Macau tem hoje 17 professores de português, nove de nacionalidade portuguesa e o restante, chineses. Metade dos 300 alunos que frequentam o curso superior de tradução chinês-português é de Macau, enquanto a outra metade é ocupada por alunos de outras cidades da China.

O caso do IPM reflete a evolução da língua portuguesa em Macau, que, segundo a Lei Básica da região, continua sendo uma das línguas oficiais. E o idioma ainda é amplamente utilizado, por exemplo, nas áreas de administração, justiça, educação e cultura. Todo o sistema legislativo é bilíngue, ou seja, escrito em chinês e português. O idioma de Camões é ensinado em parte das escolas primárias e secundárias de Macau, enquanto nas universidades o curso de português é mais concorrido do que no passado.

Zhou Xiaochen nasceu em Beijing e estudou português entre 2002 e 2006 na Universidade de Macau. Depois de graduada, ela passou a dar aulas no Instituto de Português do Oriente (IPOR), uma escola de idiomas subordinada ao Consulado Geral de Portugal em Macau. Segundo ela, a facilidade de conseguir empregos relacionados ao português incentivou muito de seus colegas a decidir pela profissão.

"Não é tão difícil encontrar um emprego. O meu caso foi um pouco especial porque já alimentava a ideia de ser professora de português durante os quatro anos do curso, e meus professores sabiam disso. Por isso, quando surgiu a oportunidade, os professores me deram as cartas de recomendação, fui à entrevista e consegui o trabalho. E meus colegas também encontraram trabalhos mais ou menos relacionados ao português. Alguns estão em bancos ou em empresas, fazendo tradução. Outros, como eu, são professores de língua portuguesa."

Zhou dá aulas de português básico aos alunos do IPOR. A escolha deles pelo português, segundo ela, tem a ver com o leque de oportunidades e a ascensão profissional.

"Como disse antes, alguns alunos já trabalham, e em várias áreas. Mas a principal razão de eles escolherem o português é por ser vantajoso para a promoção profissional. E também temos alunos de escolas secundárias que querem aprender português. Por quê? Porque querem ser advogados, querem estudar Direito na universidade. Eles acreditam que o português lhes ajudará em seus trabalhos futuros. O português é essencial para a área de Direito."

Wu Zhiliang, presidente da Fundação de Macau, nos falou da importância dos falantes de português no desenvolvimento socioeconômico de Macau.

"Como você sabe, hoje em Macau a maioria da população é chinesa, enquanto a nação era portuguesa. A comunicação entre a comunidade chinesa e portuguesa tinha de ser feita por bilíngues. Portanto, os tradutores e intérpretes desempenharam e continuam desempenhando um papel muito importante na estabilidade social e desenvolvimento econômico de Macau."

Além de formar seus próprios talentos em português, esta pequena cidade também oferece apoio às universidades do continente chinês que ensinam o idioma.

A Fundação de Macau é uma instituição pública dedicada à promoção do desenvolvimento científico, cultural e educacional, e que também apoia universidades com cursos de português através do fornecimento de equipamentos, formação de professores e estágio em Macau. O presidente da fundação, Wu Zhiliang, nos contou que há mais de 10 anos sua instituição oferece bolsas de estudo de um ano em Macau aos terceiranistas da Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing.

O IPM assinou sucessivos acordos de cooperação e intercâmbios de alunos com a Universidade de Estudos Estrangeiros de Shanghai, a Universidade de Comunicação da China e com a Universidade de Beijing. O IPM também tem parcerias relativas à publicação de material didático com instituições de ensino do continente chinês. Para Li Xiangyu, as vantagens de Macau no ensino do português são incomparáveis.

"Possuímos várias vantagens. Além da longa história de relacionamento com Portugal, também temos um corpo docente fácil de ser contratado seja em Portugal, no Brasil ou em outros países. Por exemplo, quando precisamos professores de português, podemos recrutar localmente ou em Portugal. Temos boas relações com universidades portuguesas, como a Universidade de Lisboa e a Universidade de Coimbra, e até com alguns institutos politécnicos portugueses. Gostaria de destacar ajuda do Politécnico de Leiria. Às vezes, eles enviam professores de português ao nosso instituto. Assim, temos essa fonte de língua e cultura portuguesa."

A criação do Fórum de Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa em 2003 é a prova da importância dada por Beijing e pelo governo da RAEM ao intercâmbio econômico e comercial entre a China e os PLPs. O desenvolvimento notável desse intercâmbio, especialmente com Brasil e Angola, motiva a grande procura por talentos especializados em português. Nessa circunstância, Macau desempenha um papel importante no ensino do idioma, garante Wu Zhiliang.

"Macau sempre foi uma plataforma de ligação entre a China e o mundo lusófono. Temos a responsabilidade de apoiar a formação de mais falantes de português na China para promover o intercâmbio, tanto econômico quanto cultural, entre a China e os PLPs."

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