Cantos e danças dos miaos, inseparáveis da flauta rústica
2007-08-08 17:49:04    cri

Os miaos são uma das etnias do sul da China, têm muitas ramificações e estão amplamente distribuídos. Devido à sua longa história e vasta cultura folclórica, as ramificações dos miaos têm nuances e atrativos intensos e distintos no que tange à língua, à indumentária, ao canto e à dança. Mas, sendo da mesma etnia, têm muito em comum quanto ao culto aos deuses, aos costumes de vida, às formas de canto e dança e aos estilos arquitetônicos. Nestes aspectos, usar a flauta rústica para dançar e para acompanhar a dança de grupo é uma particularidade compartilhada por todas as ramificações dos miaos. Observando-se o conjunto, mesmo que o canto e a dança das diferentes zonas não demonstrem grandes diferenças, se distinguem por formas únicas e inconfundíveis.

Os miaos chamavam de "caitang" (pisar no solo) às danças de diversão com canto de grupo para os jovens. Mas, como nunca falta a estas danças a música de Lusheng (a flauta rústica no dialeto miao), o tradicional nome "caitang" foi trocado para "dança Lusheng". Em pouco tempo, para apontar suas peculiaridades e matizes, foram adicionados os nomes topográficos de cada lugar, passando a dança a chamar-se "dança Lusheng de Rongshui, Guangxi", "dança Lusheng do sudeste de Guizhou", "dança Lusheng de Huaxi, Guizhou" etc. É um costume tradicional das etnias miao e dong que o homem toque a flauta e a mulher dance. No entanto, as mulheres miaos da província de Guizhou, não menos talentosas que os homens, são uma exceção, já que tocam a flauta e dançam ao mesmo tempo. Não há risco de exagero em dizer que é uma "paisagem" inexistente nas zonas onde vivem as demais "etnias da flauta rústica". Além de terem que tocar bem a flauta rústica e participarem da dança em grupo com o instrumento, os rapazes miaos devem saber dançar sozinhos ou em "pas de deux", com a flauta também. Somente assim sobressairão em relação aos demais e ganharão a admiração das garotas.

Em Huaxi, Guizhou, sempre que é festa de Ano Novo ou outra celebração, os miaos jovens de ambos os sexos se juntam para tocar a flauta rústica e dançar a dança Lusheng. Entre os intérpretes da flauta há também mulheres de tenra idade que, de pé junto aos intérpretes homens em uma mesma roda de música, ao soprarem seus instrumentos dançam com as mulheres que ficam num círculo exterior ao dos músicos. Nas duas rodas, entrecruzadas, os bailarinos mudam de lugar constantemente, brincam ora em direção ao centro, ora em direção à parte de fora, como se fossem flores abertas ou mariposas bonitas. Mesmo não sendo artistas profissionais, sua simplicidade, sua elegância e sua alegria, que brotam do coração, enchem de vida o canto e a dança, de tal forma que os espectadores se extasiam batendo palmas e os pés no chão.

Mais divertidas, no entanto, são as moças de uma ramificação da etnia miao chamada de "miaos de cabeça pontuda". Elas levam na cabeça gorros de cor marrom, terminados em uma ponta. Quando as moças não têm tempo de declarar seu amor ao rapaz que queiram, mesmo tendo dançado com ele a dança Lusheng em grupo, recorrem, então, ao romântico hábito de "deixar-se conduzir como a ovelha", hábito este muito popular entre os miaos de cabeça pontuda. Explicando melhor, ao fim do baile, se alguém segue um grupo de duas ou três moças, descobrirá que não estão vagando pelo lugar às cegas, mas sim que estão procurando pelos rapazes por quem estão apaixonadas. Assim que uma vê o rapaz que ama, tira do peito uma tira de pano larga e escura, prontamente a amarra na cinta do amado, pega a outra ponta na mão e começa a seguir, calada, seus passos, não importa onde vá o jovem. Os moradores locais chamam de "conduzir a ovelha" a este ato em que o rapaz guia a moça apaixonada por ele pela cinta que leva na cintura. Mas interessante ainda é que, às vezes, um jovem mais ousado conduza várias "ovelhas" ao mesmo tempo, andando para todo o lado. Mas fique tranqüilo, porque ninguém vai se irritar com ele. Para o "guia", é uma chance valiosa de exibir seu charme e, portanto, sente euforia, enquanto as moças que vão atrás dele ficam satisfeitas por terem escolhido o melhor dos homens. Afinal de contas, as moças sabem perfeitamente que estão rivalizando em pé de igualdade e não têm por que se chatearem com as outras. Sabem, também, que quem rirá por último depende do "guia", que faz a escolha.

No distrito de Rongshui, na região autônoma de Guangxi, a "dança Lusheng sobre três estacas" entre dois homens é uma dança acrobática muito difícil. Já pelo nome, entende-se que os dois devem dançar sobre três estacas de madeira cravadas no solo. Imagine-se: não é nada fácil, para qualquer um que seja, saltar de uma estaca a outra quando há apenas três, menos ainda se dois homens têm que brincar alternadamente e sem cair. Nem bem começar a soar os yequins (instrumentos de corda) para o acompanhamento musical, os dois dançarinos, segurando as flautas rústicas em frente ao peito, cada um em pé em uma das estacas, começam a saltar sobre as três alternadamente. Do início ao fim, movem os pés de acordo com os sons, ora rápidos, ora lentos, das flautas, mantêm os corpos equilibrados com maestria e colaboram tacitamente de modo perfeito. Nesse ponto, a atuação arranca elogios e gritos de admiração dos espectadores. É graças à grande destreza de seus executores que a "dança Lusheng sobre três estacas" dos miaos do distrito de Rongshui criou fama na região e fora dela.

Em muitas comunidades miaos da província de Guizhou, distante do distrito de Rongshui, Guangxi, também há danças lusheng entre homens. A dança do faisão entre dois homens é uma delas. Por tradição, os miaos adoram as aves desde a antigüidade, e o faisão é a fênix, a seus olhos. Assim, imitar o faisão e seus movimentos é parte indispensável de muitas danças. Na dança do faisão, dois rapazes bonitos, usando gorros com grandes plumas de faisão, camisas brancas e calças pretas com adornos tradicionais, dançam primorosamente e tocam suas flautas ao mesmo tempo. Imitam faisões brincando e brigando, dançam passando um pé sobre o ombro do outro, e, quando voltam ao solo, fazem poses bonitas, sem nunca deixar de soprar os instrumentos. O espetáculo, além de exibir muita habilidade dos dançarinos, permite aos espectadores desfrutarem de cenas de brincadeiras e de busca de alimentos dos faisões na natureza.

 
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