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(GMT+08:00) 2005-01-18 13:18:34    
Ascensão e queda de Xiang Yu

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A história da brilhante mas complicada personagem Xiang Yu (232 - 202 a. C) ? a sua ascensão meteórica de pessoa que "não tinha um palmo de terra" ao grande conquistador, e a sua rivalidade face a Liu Bang, fundador da dinastia Han (206 a. C ? 25 d. C) que acabaria por o derrotar ? oferece uma leitura encantadora. A história, inserida no livro Memória Histórica do famoso Sima Qian, da dinastia Han, revela que o carácter arrogante e impetuoso de Xiang Yu esteve na origem do seu fracasso.

Xiang Yu nasceu duma família nobre no antigo estado Chu, que cessou de existir quando Qinshihuang, o primeiro imperador, unificou toda a China. Ao mesmo tempo que a rebelião camponesa dirigida por Chen Sheng e Wu Guang atacava o domínio de Qin, Xiang Yu matou o chefe da prefeitura de Wu (atual Suzhou, na província de Jiangsu) e recrutou tropas para participar na revolta. Também nessa altura, Liu Bang, um oficial de baixa hierarquia nos aparelhos de Qin, e que cresceu numa família de agricultores, provocou um levantamento na atual província de Jiangsu. Após os dois chefes da rebelião camponesa terem sido mortos, os exércitos de Xiang Yu e Liu Bang tornaram-se as principais forças na luta contra Qin. Ambos combatiam ao mesmo tempo sob a bandeira do rei Huai de Chu, neto do antigo rei de Chu, que tinha sido encontrado quando pastoreava um rebanho de ovelhas, e foi colocado no trono imperial.

Em 208 a. C., quando Xiang Yu e Liu Bang se preparavam para tomar Xianyang (perto da atual Xi´an), capital de Qin, chegou um pedido urgente de auxílio, vindo da cidade de Julu no sudeste da província do Hebei, que tinha sido cercada havia já quase um mês pelas tropas de Qin. Um grande exército foi então enviado a socorrer Julu, com Xiang Yu como segundo comandante, imediatamente subordinado a Song Yi, veterano homem de estado. Chegado a Anyang (na atual província do Henan), Song Yi ordenou que as tropas se detivessem. Queria aguardar o momento em que os soldados de Qin se cansassem, para então os atacar. Ali permaneceram quarenta e seis dias, ao frio e à chuva. As municações começavam a escassear. Xiang Yu queria avançar e ficou zangado com Song Yi por este ignorar o padecimento dos soldados.

Certa manhã, no decorrer duma conferência com Song Yi, Xiang Yu foi enviada a quebrar o cerco, mas não logrou os seus intentos; assim, Xiang Yu Lançou todas as suas forças na batalha. Depois de atravessado o rio Zhang na província do Hebei, Xiang Yu mandou afundar todos os barcos e despedaçar os panelões após se terem preparado mantimentos para três dias. As tropas não tinham outra escolha que avançar. O ditado "despedaçar panelas e afundar barcos" é ainda hoje usado no chinês.

As tropas de Xiang Yu conseguiram romper o cerco, e o general de Qin rendeu-se-lhe. Mais tarde, Xiang Yu apoderou-se dum vasto território, cobrindo conco antigos estados. Dividiu também o império de Qin em vários feudos, que entregou aos seus partidários, e designou-se a si mesmo Suserano ou Conquistador.

Entretanto, Liu Bang, com um número reduzido de homens, conseguiu abrir caminho para oeste através da Passagem Hangu. Tomou a capital de Qin, e proclamou-se novo imperador, o que, ao longo de quatro anos causou intensas disputas entre ele e Xiang Yu. Este, por ter saudade de Chu, cometeu um erro táctico, ao abandonar o território a oeste da Passagem Hangu.

Nos finais do ano 203 a. C., muitos dos pequenos reis e barões traíram Xiang Yu. Certa noite, rodeado pelas forças de Liu Bang e a debater-se com a falta de víveres, Xiang Yu, sentado na sua tenda com a sua concubina favorita, a senhora Yu, ouviu o canto de Chu ? a sua terra natal --, entoados pelos sitiantes de Liu Bang. "É certo que os Han conquistaram o estado Chu, e que, por isso, têm muitos Chu a seu lado?" perguntou-se. Deste momento nasceu um provérbio chinês: "As canções de Chu nos quatro cantos" ? significando que se está cercado por todos os lados.

Tomado de tristeza, Xiang Yu, passou a noite inteira, a beber, em companhia da senhora Yu, cantando uma canção melancólia inspirada pelo momento:

A minha força desenraizou as montanhas,

O meu espírito dominou o mundo,

Mas os tempos estão contra mim,

E o meu cavalo não pode galopar mais ...

Cantou-a sem parar, uma vez após outra, até que as lágrimas lhe desceram pela face. A senhora Yu, e todos os presentes choravam também. Então, saiu a correr da tenda, e, com oitocentos fiéis soldados, romepram o bloqueio e atravessaram as linhas, até chegarem às margens do rio Wu na atual província do Anhui. "O Céu está contra mim", disse, porque de nada servia cruzar o rio. Entre os atacantes, descobriu um velho amigo seu. Ofereceu-lhe a sua cabeça, pela qual se prometera uma grande fortuna, e cortou a sua própria garganta.

A ópera tradicional chnesa Xiang Yu, o Conquistador, despede-se da sua concubina foi criada com base nesta história. Na ópera não se menciona o que se passou depois com a senhora Yu. Conta uma lenda que, depois de Xiang Yu se ter ido embora, ela cantou uma canção que se ouviu mais alta do que as canções que chegavam dos acampamentos de Han, e depois se suicidou.

O historiador Sima Qian criticou os erros cometidos por Xiang Yu ao abandonar os territórios a oeste da Passagem e ao ter-se colocado acima do imperador, e acrescentou: "Embora o seu domínio não tenha durado muito tempo, as suas realizações foram, sem dúvida, únicas na história dos tempos recentes ... Que louco foi Xiang Yu ao dizer que o Céu se lhe opunha, em vez de reconhecer que a adversidade crescera da sua estratégia errada!"